22 de março de 2012

Apolônio de Tiana

Um dos personagens mais influentes da história antiga e também um dos menos citados nas eras seguintes, foi Apolônio de Tiana. Sua biografia confunde-se, e em alguns momentos parece se omitir da história. Estudiosos e fabulistas conjecturam sobre sua vida, personalidade e obras.
Apolônio notabilizou-se para a posteridade como um filósofo neo-pitagórico e professor. Assim, sabe-se que nasceu na cidade de Tiana, Capadócia, Turquia, possivelmente em 2 a.C.. Recebeu sua educação formal em Tarso e em Aegae onde estudou medicina e as doutrinas pitagóricas. Esteve também na Grécia, Assíria, Babilônia e Índia, Mongólia, Tibet e um período de isolamento no Himalaia, entrando em contato com o misticismo dessas culturas e escolas iniciáticas como a Gnose e o Hermetismo.
Foi neste momento que atraiu a atenção de um jovem escriba de nome Damis, o qual o acompanhou e tornou-se uma espécie de discípulo e biógrafo pessoal de Apolônio.
Os registros de Damis compreendem, além da vida de Apolônio, também uma rica fonte de referências sobre aquele tempo. Foi a partir do trabalho de Damis que tornou-se possível construir uma biografia mais clara de Apolônio. Quando estes escritos estiveram em poder da imperatriz romana Julia Domma, esposa de Sétimo Severo, que os entregou a Flavio Filóstrato que, por sua vez, recebeu a incumbência de traçar a vida de Apolônio, elaborando assim A Vida de Apolônio, a mais rica, mas não necessariamente a mais confiável, fonte biográfica do filósofo.
Apolônio esteve também na Espanha e na Itália. No fim de sua vida, possivelmente com aproximadamente cem anos de idade, instalou-se em Éfeso, onde veio a falecer.
A obra que Apolônio construiu em sua vida foi muito rica e seus tratados sobre medicina, ciência e filosofia orientaram, mesmo que indiretamente, o desenvolvimento destas áreas. Há ainda, tratados alquímicos de autoria atribuídas à Apolônio.


O místico Apolônio

Através de algumas fontes pode-se encontrar um Apolônio mais místico do que filósofo e mais ocultista do que científico. Entretanto, essas referências podem não ser tão confiáveis; mas, certamente, ajudaram a construir sua imagem e a solidificá-la na história.
Sob este aspecto, Apolônio teria, assim como Cristo, nascido de uma virgem, bem como sua vinda teria sido anunciada por um anjo. Ainda, teria influenciado fortemente os seguidores de Cristo e assim ajudado a fundamentar as bases que regem o catolicismo, como a liturgia e o simbolismo.
Durante suas viagens pelo oriente, acompanhado de Damis, iniciou-se em diversas doutrinas e atingiu rapidamente os níveis mais elevados dos mestres. Apolônio teria absorvido uma carga de sabedoria que só seria possível se vivesse na Terra por incontáveis anos. Acumulou conhecimentos sobre o uso dos cristais, a aplicação das cores nos templos sagrados, a utilização da música como canal de contato com mundos superiores; além de estudar simbologia, transmutações de elementos da natureza, cura, o dom de profetizar, de se comunicar com outros seres através de linguagens específicas etc.
Um caráter místico foi atribuído a sua pessoa. Por onde passava, Apolônio era recebido como um poderoso sacerdote capaz de realizar milagres, promover a cura de enfermos terminais e todo o tipo de atividade sobrenatural.
Em Roma, teria ressuscitado a filha de um governante. Também foi acusado de traição aos imperadores Nero e Domiciano, isentando-se de tais acusações por meios "mágicos". Certa vez, quando encurralado por um grupo de cães ferozes prontos para atacar, Apolônio simplesmente "desapareceu" no ar frente a uma multidão.


O Nuctemeron

A um não iniciado é possível a aquisição de apenas um trabalho autêntico de Apolônio de Tiana, cujo o nome é Nuctemeron, mas até mesmo dele existem também algumas edições falsas. A palavra Nuctemeron pode ser traduzida e interpretada como uma expressão equivalente à O Dia de Deus que Resplandece nas Trevas ou simplesmente o dia e a noite. A obra é um tratado de cunho ocultista de autoria provável de Apolônio. Este tratado traz doze "capítulos" distribuídos como as doze primeiras horas do dia. Cada "hora" seria uma instrução específica para um grau de elevação espiritual. Desse modo, os ensinamentos desta obra são apresentados em linguagem um tanto velada, pois são ensinamentos de altíssimo nível.
Portanto, seria uma evidência de que Apolônio não apenas rondou os temas herméticos, mas como também fora um estudioso e praticante de modalidades distintas do ocultismo.


Apolônio pela História

A obra Vida de Apolônio, de Filóstrato, pode ser considerada uma narrativa um tanto fantasiosa. Ao que parece, o autor tentou atribuir à Apolônio um caráter divino comparável à Cristo. Até mesmo a imagem do apóstolo Paulo teria sido "inspirada" na imagem de Apolônio.
Mais de duzentos anos após sua morte, Hierócles afirmava que a vida e as obras de Apolônio eram mais relevantes que a de Cristo. Adriano, o imperador romano, foi um entusiasta dos trabalhos de Apolônio, promovendo sua disseminação durante seu império. Na Idade Média, devido a algumas semelhanças biográficas com Cristo, a imagem de Apolônio foi denegrida pelo clero, considerando-o um impostor ou mesmo um mago satânico. No século XVII, Voltaire reafirmou a importância do filósofo.
De qualquer forma, o incógnito personagem de Tiana enraizou-se na história e há quase dois mil anos desperta interesse, curiosidade e admiração.

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