3 de agosto de 2012

Die Satanische Politik


De eras em eras, a humanidade conhece uma corrente que resgata a moral do forte, condena a fraqueza e eleva a condição humana a um patamar divino.  Como satanistas, temos muito a ganhar estudando e comparando estes estilos de vida hiperbóreos, como a polis de Esparta,  o Império de César e as tropas de Napoleão.
Mesmo porque cada uma destes estilos deixou sua marca e faz parte da herança cultural que carregamos no mundo moderno. E por mais polêmico que isso seja hoje, o Nazismo foi uma destas correntes.

Existe entre os satanistas o bordão de que Nazismo e Satanismo são combinações impossíveis. Isso ocorre  em parte por causa de premissas diferentes de onde cada sistema parte para formar suas bases, e por outro por uma espécie de receio dos próprios satanistas têm de adquirir a má fama que o nazismo conquistou durante a segunda guerra. Pessoalmente não acredito em combinações impossíveis e tão pouco entendo porque alguém que deliberadamente usa o título de satanista deveria se preocupar com sua má fama.

Neste artigo procurarei demonstrar porque considero que o Satanismo pode sim fazer par com o nazismo, assim como com qualquer outro sistema político como o anarquismo, comunismo, etc..

A intimidade satanogermânica

Para começar é historicamente sabido que muito antes da Suástica estampar o peito dos soldados, a Alemanha foi palco de uma vasta histeria satânica que começou com o Papa Inocêncio VII e não terminou mesmo depois de Lutero. O Papa escreveu em sua bula Summis Desiderantes Affectibus:

"...tem chegado recentemente a nossos ouvidos que em certas regiões da Alemanha setentrional nas dioceses de Mainz, Colônia, Trier, Salzburgo e Brêmen, muitas pessoas de ambos os sexos, esquecendo-se de sua própria salvação e apartando-se da Fé Católica, têm mantido relações com os demônios por meio de encantamentos, feitiços, conjuros e outras superstições malditas..."

E realmente, mesmo antes desta declaração já fazia parte da cultura nacional a lenda de que nas noites de Walpurgisnacht as bruxas e feiticeiros gemânicos subiam nas mais altas montanhas da região de Harz para coabitar e festejar como Diabo em pessoa. Estas duas heranças culturais já bastaria para mostrar a ligação do povo alemão com a figura de Satã, mas o legado não para por ai.

Foi com a história de Johannes Faustus de Heidelberg, vulgo Fausto que a humanidade atingiu uma intimidade com a figura infernal jamais antes vista. A lenda conta que certo dia Johannes, um notório estudioso das artes ocultas chamou Mephistopheles e vendeu sua alma aos domínios de Belzebu em troca de sabedoria, juventude e poderes mágicos. Isso foi revolucionário porque o a figura do Diabo sofreu uma grande transformação com esta história. Não era mais um simples inimigo a ser repelido, mas alguém com que se podia negociar. Os alemães sabiam que "Die Teufel ist nie so schwarz, wie man ihn malt", o diabo não é tão mal quanto o pintam e assim foram um dos primeiros povos a pintá-lo com uma outra cor. Em Fausto encontramos a conexão das antigas lendas demoníacas com o ideal nazista da busca a qualquer preço pelo poder, pela força e pela sabedoria.

Vale lembrar ainda que com os nazistas no poder houveram sinceros esforços para resgatar a as antigas culturas das bruxas germânicas através de seminários públicos sobre paganismo e publicação de pequenas obras como "os efeitos econômicos dos julgamentos das bruxas" e "os fundamentos intelectuais do complexo das bruxas". Não que a ideologia fosse contra o cristianismo. A igreja é ótima para manter o povo no lugar e ainda era amplamente aceita. Ao contrário do que ocorreu na União Soviética os nazistas jamais proibiram a religião das massas, nem fecharam as organizações cristãs. Himmler registra esta postura em seus diários quando escreve ter ouvido do próprio Hitler as palavras: "O melhor mesmo é deixar o cristianismo morrer de morte natural".

Um nazismo para as elites

Aqui começamos a encontrar a linha que leva as raízes satânicas do Nacional Socialismo. Cabe ao satanista conhecer e filtrar o que lhe é útil em todas as escolas de pensamento, mas resumidamente poderíamos dizer que existem sim semelhanças assim como diferenças fundamentais entre as duas correntes. Para os aprofundarmos neste tema é preciso primeiro reconhecer que existiam dois nazismos: um para os altos escalões e outros para as multidões um para a elite e outro para as massas. Neste tocante o Satanismo têm muito em comum com o nazismo oculto vivido nas sociedades fechadas do Reich, com especial destaque para a Schutzstaffel (SS), a Ordem Negra. Todo o povo conheceu um grupo de elite, e na Alemanha nazista era a SS que cumpria este papel.

É neste nazismo que devemos buscar as semelhanças com o Satanismo e não nas canções entoadas pelas grandes turbas. Para isso começamos externamente ao observar que o nazismo, e em especial a SS, davam assim como o satanismo a mais alta importância para o simbolismo e a linguagem visual. Isso ia das insígnias, aos uniformes, das formações do exercito, as saudações, da postura corporal ao cultivo do corpo. Cada faceta da organização era intencionalmente cultivada para acentuar uma estética forte e elitista. Esta estética não se limitava às artes puramente visuais. Todo ato público era cuidadosamente programado e ensaiado para que causasse o maior impacto possível, e todo ato restrito aos membros da SS eram igualmente espetaculares, exatamente como as manifestações públicas dos primeiros anos da Church of Satan. A diferença é que alguns membros sabiam o significado dos símbolos. Uns conheciam a Suástica outros juravam a bandeira da Alemanha.

A importância da estética

O brilhante compositor alemão Richard Wagner profundo influenciador dos ideais nazistas sabia transpassar muitas de suas idéias por meio de suas óperas. Em Religião e Arte, Wagner afirma:

"Pode-se dizer que onde a religião se torna artificial, é reservado à arte salvar o espírito da religião reconhecendo o valor figurativo do símbolo místico - o qual a religião queria que acreditássemos num sentido literal - e revelar suas profundas e ocultas verdades através de uma apresentação ideal. Enquanto o sacerdote apóia tudo nas alegorias religiosas para que sejam aceitas como realidade, o artista não tem preocupação alguma com tal coisa, pois, aberta e livremente, divulga sua obra como sua própria criação. Mas, a religião afundou-se numa vida artificial quando sentiu-se compelida a continuar aumentando o edifício de seus símbolos dogmáticos e, conseqüentemente, ocultando a única verdade divina sob um sempre crescente amontoado de incredibilidades, as quais recomenda que se acredite. Sentindo isto, ela sempre procurou o auxílio da arte que, por sua vez, permaneceu incapaz de uma maior evolução enquanto precisasse apresentar essa pretensa realidade para o devoto, sob a forma de amuletos e ídolos, visto que só poderia cumprir sua verdadeira vocação quando, por uma apresentação ideal da figura alegórica, levasse a compreensão de sua essência interior - a verdade inefavelmente divina".

A semelhança com uso da estética nos rituais satânicos torna-se, portanto mais do que clara, pois assim como a estética nazista tem como objetivo primeiro guiar a mente para uma nova cosmovisão os símbolos da câmara ritual dos satanista não são nada senão ferramentas.

Por isso a mitologia nazista causa confusão até hoje. Antes de ser um retrato descritivo de uma realidade é um desenho dinâmico de vários cenários que cresceu e se transformou durante todo o regime. Uma imensa composição formada de heranças culturais árias, mitologia nórdica, esoterismo tibetano, antropogênese teosófica, catarismo, zoroatrismo, e gnosticismo com temperos Templários e Rosa-Cruz. Prender-se em sua forma é perder sua essência. O importante não era o dedo, mas para onde este apontava. E a cultura nazista apontava para uma nova forma de encarar a humanidade.

Meta-morfismo político

Mais do que ferramentas de propaganda política, o simbolismo, os rituais e a estética nazista guiavam os líderes da SS para um senso novo de ética baseada na super-humanidade e na vontade de poder que transcende os antigos patamares de bem e mal. Esta nova visão de mundo era formada pelos mais altos ideais pré-cristãos, incluindo a supremacia racial ariana, o imperialismo, o paganismo, a glorificação wagneriana, o darwinismo social e um culto ao poder e as artes marciais. Isso fica bem claro em citações de oficiais da mais alta patente como esta em que Heinrich Himmler que na lógica da caserna diz: "Não importa onde estamos lutando; não importa contra quem estamos lutando. Mataremos quem tivermos que matar no interesse de nossa vida, e tirar assim a vida de um homem não significara mais do que tirar a vida de um inseto... Só com esta filosofia poderemos trilhar com confiança o caminho da vitória.". Muitos destes aspectos são levados em frente hoje em dia pelos satanistas, e por ninguém mais senão os satanistas.

Há de se notar que o Nazismo nunca foi uma corrente de extrema-esquerda como hoje acusa a direita nem foi uma corrente de extrema-direita como hoje acusa a esquerda, não tinha evidentemente também um posicionamento de centro, mas ao invés disso foi uma ideologia meta-política, que via a si própria como uma ferramenta mutável para se atingir seus objetivos maiores de super-humanidade. Jamais antes disso outro sistema conseguiu unir pontos tão contraditórios como a liberdade econômica e o bem estar social, a satisfação civil e a severidade penal, a etc..

Mein Kampf como um livro satânico

Michael Aquino, fundador do templo de Set, chega a admitir que o Mein Kampf pode ser considerado a Bíblia Satânica Política, e que concernindo ao controle do movimento das massas é muito mais importante do que qualquer coisa escrita por Jefferson, Lock, Marx, Lennin ou Kissinger. Tanto a Bíblia de LaVey como o livro de Hitler são impulsionados pelos mesmos valores e ideais, mas o primeiro livro nada escreve sobre política enquanto o segundo só escreve sobre isso.  LaVey ensina que as pessoas são motivadas basicamente por suas emoções animais, como a raiva, a luxúria, o orgulho e muito do Satanismo baseia-se justamente em se aceitar e trabalhar com estas emoções. A importância do Nazismo é que este jamais negou as bases emocionais da humanidade, muito pelo contrario, valeu-se delas em uma escala nacional. Reconhecendo o ser humano pelo que é, e buscando criar a super-humanidade a Alemanha em três anos conquistou praticamente toda a Europa e saiu de uma depressão para um espetacular crescimento econômico.

Um nazismo reformado?

É essencialmente importante entretanto, para que aprendamos com o Nazismo, que estejamos atentos também aos seus erros e que saibamos adaptar sabiamente seus métodos e metas para os dias de hoje. Os enganos do passado são lições tão valiosas quanto os acertos. Assim como Hitler soube aprender com Otto Bismarck e a pregressa história política de seu tempo, nós também devemos saber trazer para a Nova Era Satânica os princípios úteis do III Reich. Assim hoje, ao ler o Mein Kampf como um manual político temos que mentalmente nos esforçar para eliminar toda a dependência do anti-semintismo. A esmagadora maioria dos chamados neo-nazistas são especialistas em odiar judeus mas pouco ou nada sabem sobre as verdadeiras chaves políticas usadas por Hitler para estabelecer o seu governo. Nada contra defender os valores da raça ária, como LaVey mesmo disse em Satan Speaks "o Odinismo pode ser uma admirável e heróica forma de satanismo." mas o fato é que chegou um ponto em que sem o anti-semitismo Alemanha Nazista não tinha mais razão de existir. O ódio ao inimigo tornou-se uma compulsão estatal e o bode expiatório semita tornou-se a obsessão que encurtaria o milênio nazista para pouco mais de uma década. Voltando a Michael Aquino: "Quando analisamos a Alemanha Nazista o Anti-semitismo não pode ser ignorado, mas quando consideramos seus princípios políticos para o presente e futuro ele deve ser. "

Este é sem dúvida o ponto mais importante e ignora-lo tem cegado ambos os lados dos estudiosos do Nazismo. De um lado a Indústria do Holocausto se recusa a aceitar qualquer comentário favorável do regime nazista, de outro os revisionistas se dedicam tanto a provar que o estrago não foi tão grande que acabam perdendo o foco de todo resto. Só se discute Auschwitz e os horrores dos campos de concentração de modo que qualquer outra abordagem é rapidamente esquecida. Tudo o que vem do período nazista é mostrado para o grande público como mal, errado e demente ainda que ironicamente povos do mundo inteiro utilizem suas técnicas de propaganda, administração, políticas públicas, manejo das massas e ainda que todos os exércitos (incluindo Israel) estudem e apliquem até hoje suas estratégias de campo, técnicas de espionagens e métodos militares.

O IV Reich

Mas como Nazismo poderia funcionar sem um inimigo público declarado? Hitler deixa bem claro que nada pode unir mais as pessoas do que um inimigo em comum. Bem, o importante não é a ausência de inimigos, mas que este inimigo não seja de uma raça específica e que não haja a necessidade de campos de extermínio. E os líderes de hoje não encontraram qualquer problema nisso. Devemos lembrara que depois da segunda guerra os Aliados fizeram estudos das operações dos nazistas e logo começaram a se aperfeiçoa-las. Por um tempo comunistas e capitalistas usavam um ao outro como ameaça, mas hoje o inimigo é o terrorista, que pode ser de qualquer raça e de qualquer nação e que lute contra a liberdade a democracia e os interesses dos governantes. O Inimigo está lá fora, em toda parte e em parte alguma mostrando a face da ameaça pela mídia global. Ele é marcante o suficiente para manter o mundo unido e é translúcido o bastante servir ao novo sistema para durar para sempre.

Isso nos leva a uma provocação final. É historicamente inegável que os Estados Unidos saiu fortalecido da segunda guerra e que sem o Império Nazista jamais os judeus hoje teriam o estado de Israel. Os judeus foram libertos, e os Aliados venceram, mas o Nazismo não terminou pois sobrevive na forma como se governa o mundo hoje. Em Satan Speakes LaVey menciona que depois de uma negociação em 1934 com os líderes sionistas, Josef Goebbels entrego as contrapartes uma medalha comemorativa com a Suástica de um lado e a Estrela de Davi de outro. Lenni Brenner em seu livro "Sionismo na era dos ditadores" cita muitos outros fatos esclarecedores como um memorando de Yitzhak Shamir, enviado a Adolf Hitler, no qual escreve entre outras coisa que "... bem conhece a boa vontade do Reich Alemão e das suas autoridades, referente à atividade sionista dentro da Alemanha, referente aos planos de evacuação Sionista."

Não é o caso inocentar nazistas, culpar judeus ou dizer que o Holocausto é uma mentira, mas uma questão de reconhecer a humanidade como ela é e de reconhecer o que o nazismo foi na história e de como ele de certa forma ainda existe, sob uma nova roupagem. Não se trata das ações de um presidente ou de um conflito armado específico, mas de algo que acontece num plano muito maior. Passarão presidentes passarão as guerras e o sistema só se aperfeiçoará. O IV Reich não conhecerá fronteiras.

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