3 de abril de 2016

Palavras de poder e paganismo

Devido a vários problemas dei uma sumida, mas enfim consegui terminar um texto que estava pelo celular e estou postando para não ficar sem conteúdo.

Gostaria de levantar uma discussão que acho ser de relevância para a prática pagã. Normalmente a galera tradicionalista e praticantes de alta magia, baixa magia e magia cerimonial (não estou usando aqui todas as prática que se adequam aos termos, estou falando das práticas tradicionais referentes aos termos), retomando, um número significativo de praticantes destas magias olham com menosprezo pelos praticantes de Wicca, por exemplo.


Basicamente, o que há de comum nestas práticas é o uso de palavras de grande poder e chaves de acesso utilizadas na magia. Em geral, percebe-se o uso de nomes de poder referentes à bíblia, ao Deus judaico - Tetragrammaton, e aos elaborados e usados e aceitos à um bom tempo como o Abracadabra. Na cabala judaica, que por sinal é riquíssima, temos a parada da gematria que atribui números à letras. Os números podem ser lidos da forma extensa como por exemplo: 666 ou reduzidos aos números de 1 à 9. Não precisamos nem falar do poder deste número no imaginário das pessoas.


O quadrado do sol é um quadrado de 6x6, se somarmos cada linha ou cada coluna encontramos o número 111. Se somarmos os valores de cada linha ou de cada coluna entre si temos o número 666. Assim: o quadrado tem 6 linhas, cada linha tem como somatório 111, 6 linhas somadas, temos 111 x 6 que é igual a 666. Se quisermos um qualidade benéfica do sol selamos o quadrado com o sigilo de Nachiel que é obtido atribuindo números às letras de Nachiel que somando dão 111 e jogando no quadrado mágico obtemos o sigilo de Nachiel. Da mesma forma, se quisermos um viés negativo atribuído ao sol, utilizamos o sigilo de Sorath que possui número gemátrico igual a 666. Nota-se que este número na bíblia não é atribuído a boa coisa:


CABALA



Se pensarmos na simbologia de lúcifer como o sol negro, corrente aceita até pelos pagãos que atribuem Lúcifer ao Deus romano e não ao anjo. Existem ‘n’s explicações e atributos ao sol negro. Vamos analisa-lo como os aspectos negativos associados ao sol. Inclui aí a vaidade e o orgulho. Pecados esses atribuídos ao anjo Lúcifer. Vimos que o número 666 é atribuído ao anticristo. Figura bem condizente com Lúcifer como o ser que traz de volta à moda o paganismo. O Lúcifer romano é associado ao planeta vênus. O planeta vênus é o corpo celeste que mais brilha depois do sol e da lua. Lúcifer (anjo) no seu viés transgressor tenta roubar o lugar de Deus e sua glória. É recorrente a associação do Deus na Wicca com o sol. Temos mercúrio o astro mais próximo de Deus mantendo guarda e defendendo o astro rei. Por estar tão próximo mercúrio é ofuscado pela luz do sol. Mercúrio nas magias tradicionais é atribuído à Miguel o arcanjo. Lúcifer (anjo) é derrotado por Miguel e cai do céu com um terço dos anjos. Mas, como Ele não consegui tomar o lugar de Deus coube a Ele a sombra de Deus. Assim sendo, coube a Ele o anti-sol, ou melhor o sol negro.

Dentro de uma visão pagã, utilizamos os planetas em invocações/evocações e outras paradas. Os magos tradicionais usam anjos em suas conjurações. Mas por que muitos deles se julgam mais fortes e menosprezam os wiccanos? Quando um pagão utiliza um corpo celeste, não é muito diferente do que um mago cerimonial chamando anjos. Por exemplo: O mega mago poderoso e grande em sua soberba chama por Miguel em banimentos e exorcismos. Miguel nada mais é que o planeta mercúrio. Se pensarmos que mercúrio é associado a Hermes, um Deus grego, temos aí um Deus na parada e não simplesmente um escravo de Javé! Como exemplo temos: Zadkiel associado ao planeta e porque não ao Deus Júpter, Camael à Marte, Rafael ao Sol, Haniel à Vênus, Miguel à Mercúrio e Gabriel à Lua.

O que eu quero dizer com tudo isso, é que não importa o nome atribuído à força solicitada no trabalho mágico. Os magos tradicionais tiram seus nomes de poder e chaves de acesso nas escrituras sagradas, apócrifos, kabbalah, Zohar, entre outros. Pense comigo: Imagine um objeto que tenha uma certa força e poder. Vamos supor que este objeto maravilhoso seja uma cadeira. Aqui no brasil chamamos tal objeto de cadeira. Em outras nacionalidades este objeto terá outro nome, como chair, silla, chaise... Agora, se um alienígena chegar na Terra e encontrar este grande objeto de poder, ele dará o nome que faça sentido à sua existência e estará acessando um objeto de uma egrégora (a Terra) e dará outros nomes e funções para o objeto, assim esse objeto fará parte também de uma egrégora alienígena. Note que o objeto é o mesmo, possui o mesmo poder cabalístico ou pagão: Ele possui a imensa glória de oferecer um descanso ou lugar confortável para trabalho. Esse é o poder da cadeira interestelar, o nome atribuído a ela e toda a parada de como ela surgiu, sua cosmogonia, se de um Deus único e poderoso, se das mãos do homem (corrente que faz sentido na lógica de alguns satanistas de que o homem criou Deus e não o contrário), ou toda uma criação multi-divina.

Em um banimento pagão posso usar nomes de poder e chaves de acesso estritamente pagãs que não seriam menores em poder ou força que as chaves de poder utilizadas pelos magos cerimonialistas.

Exemplo: Para expulsar espíritos negativos para o praticante chama-se por Miguel. Eu posso expulsar tais espíritos chamando Mercúrio ou Hermes. Hermes entre outros atributos é o Deus que leva as almas dos mortos para seus locais devidos. Eu poderia expulsar um espírito obsessor de minha casa chamando por Hermes ou Miguel. Tanto faz, o que se deve levar em conta é não misturar egrégoras. Não se deve utilizar palavras de poder pagãs com palavras de poder judaico-cristãs. Para conjurar espíritos usa-se o Tetragrammaton, por exemplo. Eu posso conjurar usando o Estige e seu juramento. O Estige é um rio do Hades que nem os Deuses greco-romanos se atrevem a descumprir tal juramento. Então eu posso chamar Hermes para levar umas almas que estão me atormentando e conjura-lo pelo Estige e seu juramento.

Olha o que nos diz a magia tradicional em relação aos rios infernais: Samael está atribuído e associado ao rio Phlegethon do Hades, Azazel ao Cocytus, Azael ao Estige e Mahazael ao Aqueronte. Poderíamos, de alguma forma que ainda não elaborei de se trabalhar com espíritos demoníacos habitantes de algum submundo, como os espíritos da Goetia com imprecações puramente pagãs. Muitos poderiam argumentar que não há lógica em se trabalhar com espíritos da Goetia de uma forma pagã, porque eles são frutos justamente da demonização de Deuses pagãos pelo Deus israelita que se diz único. Voltando ao exemplo de Lúcifer e o sol negro, podemos pensar nestes espíritos Goéticos como sombras dos Deuses pagãos. Como um sol negro, uma vênus negra, marte negro..... Parafraseando não me lembro quem: “Há verdades triviais e há grandes verdades. O oposto de uma verdade trivial é, simplesmente falso. O oposto de uma grande verdade, também é verdadeiro”.



Como vimos lá em cima que Azael é associado ao Estige. O Estige sendo um rio e um Deus, sua sombra demoníaca seria Azael. E quem são estes Samael, Azazel, Azael e Mahazael? Existem diversos sistemas que atribuem seres como príncipes infernais. Em um deles temos: Samael, atribuído ao fogo. Azazel, atribuído ao ar. Azael, atribuído à água. E Mahazael atribuído à terra. Existem outras versões que atribuem Azazel ao fogo, Samael ao ar, Mahazael à terra e Azael à água.

Então, se eu conjuro pelo rio de Hades Cocytus eu tenho uma palavra de poder de grande valia. Muitos bruxos tentam ter uma religiosidade estritamente pagã, como os wiccanos. Como eu argumentei no exemplo da cadeira, pouco importa o nome que atribuímos ao objeto. O que importa é o objeto em si e seu poder atribuído. Um pagão wiccano usando o nome de poder Cocytus terá uma força enorme atribuída nas suas feitiçarias. Mas com que diabos estaríamos falando dentro da visão dos magos tradicionalistas?

Como disse, Cocytus é associado ao príncipe infernal Azazel. Quem é Azazel?

Azazel, que no Zohar é um dos anjos expulsos do céu que pecam com as filhas dos homens e que ensinam feitiçaria aos homens. Isso também se afirma no Livro de Enoch:

Que poder eles tinham [os homens] para conseguir atrair do céu as estrelas? Não seriam capazes de tal proeza não fosse a artimanha de ‗UZZA, ‗AZZA e ‗AZZIEL, que lhes ensinaram feitiços com os quais podiam atrair as estrelas e usá-las. (Hebrew, Book of Enoch by Rabby Ishmael bem Elisha 5.9, tradução de Hugo Odeburg [Cambridge University Press, 1928], 16].



O Livro apócrifo de Enoch diz: E Azazel ensinou os homens a fazer espadas, e facas, e escudos, e peitorais, e lhes apresentou o metal (da terra) e a arte de trabalhar com ele, e braceletes, e ornamentos, e o uso do antimônio, e o embelezamento das pálpebras, e todo tipo de pedra preciosa, e todas as tinturas coloridas (Enoch 8.1 [Charles 1913, 2:192]).



Recomendo a leitura de: “Três livros de Filosofia Oculta” de Henrique Cornélio Agrippa

Pense duas vezes antes de menosprezar o coleguinha wiccano!

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