Satanás, Lúcifer, Exú, Diabo, Bafomé, Choronzon – a escolha é nossa. E independente de qual for a nossa escolha, nunca estaremos caminhando em terreno firme, seguro, mas sempre sob a areia movediça das definições ambíguas, oblíquas e por fim erradas. É justamente isto, o diabo: Existe, mas querendo agarrá-lo foge – rindo de nós.
Vamos então juntar fios para tecer este tapete estranho e fascinante, horrível e esplendoroso.
The Devil (O Diabo)
Mary-El Tarot
A palavra, e com isso o conceito "Satanás" vem da palavra "Shaitan", ainda hoje usada pelo mundo árabe para descrever a mesma personagem. Porém a expressão "Shaitan" já exitia bem antes de Maomé e veio da antiga Pérsia para o mundo muçulmano. O fato do cristianismo adotar esta palavra tem duas explicações. Uma é que o Ocidente aceitara o simbolismo e a imagem de Shaitan como identica àquela que já tinha, a outra é que nestes tempos também fazia sentido usar uma palavra árabe para o mal, já que o império muçulmano era o maior e mais perigoso inimigo do mundo cristão.
A palavra "Lucifer" vem do latim e significa "aquele-que-traz-a-luz". Já temos a primeira contradição. Parece que Satanás e Lucifer são dois conceitos totalmente diferentes, mesmo sendo usados muitas vezes como sinônimos. Lucifer é o Anjo Caído, o mais belo e mais poderoso das legiões celestes, que sabia de sua força e posição e por isso mesmo rebelou contra Deus, não querendo mais aceitar a submissão esperada dele. Bom, sabemos que não deu certo... Mas o que é o mais interessante é que essa história de ser expulso dos acres felizes nos soa familiar e tem paralelas óbvias. Só que o tema vai ficando bem complexo se Lucifer e Adão e Eva têm um passado igual, não é? Como sair?
Veremos por enquanto outras formas de aparição de Satanás/Lucifer. Primeiramente temos a cobra, um dos simbolos animais mais velhos e mais presentes em todas as culturas de todos os tempos. A cobra no cristianismo é símbolo da sedução, maldade e perfídia, símbolo daquele que, escondido de Deus, provocou que a humanidade caísse para fora do paraíso dentro da miséria do mundo real. Só que a cobra como é bem mais velha que a crença cristã. E antes dessa religião não era vista somente como malvada, mas igualmente como animal sagrado de forças divinas.
No antigo Egito havia cobras para tudo, boas e más, grandes e pequenas. Havia centenas de cobras que eram veneradas por centenas de motivos e qualidades. Porém, havia duas
cobras-rei principais, Apófis e a Cobra-solar. A primeira era a grande cobra que cada noite atacava a barca de Ré atravessando o reino das trevas, a segunda era a cobra imperial que levantava o sol com sua cabeça. Parece então que a cobra é um símbolo duplo, do bem e do mal ao mesmo tempo, unindo em si o potencial dos dois.
Na antiga Índia, nas escritas védicas, fala-se da mesma maneira deste animal, e também não se distigue entre cobra e dragão, que são usados como se fossem a mesma coisa. Ora, isto nos leva para mais além, para a antiga China, de onde vieram os dragões. Lá eram e ainda são o símbolo divino e imperial do poder criador do universo. O dragão brinca com o sol, é maior e está para além do nosso sistema solar com as suas polaridades. Também astronomicamente o signo "Draco" é o único que abraça toda a terra, podendo ser visto das duas hemisferas; o que lhe deu a imagem de unir o sol com a lua. Um outro aspecto interessante é que em todo este tempo, desde o mundo antigo chinês até os nossos tempos, o dragão foi também sempre um símbolo de importantes ordens ocultas, de sábios e magos.
The Devil (O Diabo)
Mary-El Tarot
A palavra, e com isso o conceito "Satanás" vem da palavra "Shaitan", ainda hoje usada pelo mundo árabe para descrever a mesma personagem. Porém a expressão "Shaitan" já exitia bem antes de Maomé e veio da antiga Pérsia para o mundo muçulmano. O fato do cristianismo adotar esta palavra tem duas explicações. Uma é que o Ocidente aceitara o simbolismo e a imagem de Shaitan como identica àquela que já tinha, a outra é que nestes tempos também fazia sentido usar uma palavra árabe para o mal, já que o império muçulmano era o maior e mais perigoso inimigo do mundo cristão.
A palavra "Lucifer" vem do latim e significa "aquele-que-traz-a-luz". Já temos a primeira contradição. Parece que Satanás e Lucifer são dois conceitos totalmente diferentes, mesmo sendo usados muitas vezes como sinônimos. Lucifer é o Anjo Caído, o mais belo e mais poderoso das legiões celestes, que sabia de sua força e posição e por isso mesmo rebelou contra Deus, não querendo mais aceitar a submissão esperada dele. Bom, sabemos que não deu certo... Mas o que é o mais interessante é que essa história de ser expulso dos acres felizes nos soa familiar e tem paralelas óbvias. Só que o tema vai ficando bem complexo se Lucifer e Adão e Eva têm um passado igual, não é? Como sair?
Veremos por enquanto outras formas de aparição de Satanás/Lucifer. Primeiramente temos a cobra, um dos simbolos animais mais velhos e mais presentes em todas as culturas de todos os tempos. A cobra no cristianismo é símbolo da sedução, maldade e perfídia, símbolo daquele que, escondido de Deus, provocou que a humanidade caísse para fora do paraíso dentro da miséria do mundo real. Só que a cobra como é bem mais velha que a crença cristã. E antes dessa religião não era vista somente como malvada, mas igualmente como animal sagrado de forças divinas.
No antigo Egito havia cobras para tudo, boas e más, grandes e pequenas. Havia centenas de cobras que eram veneradas por centenas de motivos e qualidades. Porém, havia duas
cobras-rei principais, Apófis e a Cobra-solar. A primeira era a grande cobra que cada noite atacava a barca de Ré atravessando o reino das trevas, a segunda era a cobra imperial que levantava o sol com sua cabeça. Parece então que a cobra é um símbolo duplo, do bem e do mal ao mesmo tempo, unindo em si o potencial dos dois.
Na antiga Índia, nas escritas védicas, fala-se da mesma maneira deste animal, e também não se distigue entre cobra e dragão, que são usados como se fossem a mesma coisa. Ora, isto nos leva para mais além, para a antiga China, de onde vieram os dragões. Lá eram e ainda são o símbolo divino e imperial do poder criador do universo. O dragão brinca com o sol, é maior e está para além do nosso sistema solar com as suas polaridades. Também astronomicamente o signo "Draco" é o único que abraça toda a terra, podendo ser visto das duas hemisferas; o que lhe deu a imagem de unir o sol com a lua. Um outro aspecto interessante é que em todo este tempo, desde o mundo antigo chinês até os nossos tempos, o dragão foi também sempre um símbolo de importantes ordens ocultas, de sábios e magos.
O Diabo no Heindl Tarot
Mas voltemos ao começo. Lúcifer foi expulso das legiões celestes não porque era um idiota de mau caráter, mas porque sabia que podia ter mais do que lhe era permitido. E foi o que Deus fez, dando-lhe o comando sobre o enorme reino infernal. Como Adão e Eva foram expulsos por saberem demais, também Lúcifer o foi. E de repente parece que Deus é o mau nessa história, não é? Será que tem um erro? Tem sim, se partirmos do princípio que o mundo é linear, se tudo foi criado uma vez, para viver e depois morrer. Aí sim, Deus seria aquele que pune os que não seguem seu caminho. E é isso que se diz nas igrejas e mesquitas. Porque Lúcifer tem de ser o mau para Deus poder ser o bom.
Mas vendo o mundo como uma evolução contínua como no taoismo chinês, no budismo, no hinduismo e no misticismo gnóstico, a força chamada Lúcifer ou Satanás é simplesmente "aquela que sempre nega" e que, "querendo o mal, sempre cria o bem", como diz Goethe no "Faust". A destruição somente é demoníaca quando se constrói um universo com o fim de ser estável; todo sistema vivo tem fases de composição e decadência, nascimento e morte.
O Diabo no Tarot de Milo Manara
Assim, passando por Satanás e Lúcifer, chegamos a Exú, que é, a um nível bem mais baixo, exatamente o descrito: o não-definido, destrutivo ou criador, dependendo do impulso iniciador e do ponto de vista, para além da moral e da ética. E é justamente aqui que de novo entramos por outra porta ao que como é visto o poder do Diabo: Sexual. A alma é celeste, a carne é terrestre. Prazer e sensualidade correspondem à terra e com isso ao Outro. Poucas figuras foram mostradas e pintadas com tanta atração erótica como o diabo.
O Bafomé do templários foi uma tentativa cristã de fazer da sabedoria gnóstica uma religião. Foi a tentativa de confrontar o dogma católico com os dois outros lados do mundo: a existência real da carne e o antigo simbolismo criador do bode, declarando-o demiurgo, criador do mundo, mas ele mesmo tendo sido criado por Deus.
Partindo deste ponto, tudo que existe de tangível é do diabo, porque tudo que não é alma é matéria, e com isso do diabo. Esta é a sedução: que tudo que vemos, sabemos, sentimos é vão, fútil e ilusório. E quando duvidamos da nossa
origem e alma divina, estamos em perigo de cair.
É a risada de Choronzon, que nada deixa de pé, derrubando qualquer conceito, qualquer opinião, qualquer certeza. É a cabeça da cobra que se ergue em Daath, deixando-nos cair no abismo das almas perdidas.
No sufismo se diz: "Toda certeza é do Diabo."
E aqui estamos!
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