9 de setembro de 2012

Ian Curtis

O Poeta dos Desesperados
  
Cidade industrial de Manchester, 1977. Em meio ao movimento Punk da época, as bandas Sex Pistols e The Clash levam milhares de fãs aos seus shows. Durante uma das apresentações da Anarchy Tour, dos Sex Pistols, havia três amigos que se conheciam desde a infância: Bernard Sumner, Peter Hook e Terry Mason. Uma outra figura bem comum em todos os shows de Rock da época estava lá também. Seu nome era Ian Curtis.

Dias após, os três amigos resolvem formar uma banda e colocam um anúncio procurando por um vocalista; Ian Curtis responde. Assim, começa a trajetória da banda conhecida primeiramente como Warsaw, nome dado pelo próprio Ian em alusão a uma música de David Bowie (uma música longa, com vocais estranhos no final, parecendo um culto religioso sinistro e primitivo).

Numa época em que qualquer um poderia fazer música, pois não era necessária nenhuma técnica, apenas vontade e idéias inovadoras, Ian Curtis começa a se destacar com sua banda, agora chamada de Joy Division; nome extraído do livro The House Of Dolls, que descrevia os horrores do nazismo. As "Divisões do Prazer" eram os alojamentos destinados às mulheres judias que eram estupradas nos campos de concentração nazistas. Quem escolheu o nome também foi Ian Curtis, que era obcecado por tudo que fosse alemão.

No LP de estréia intitulado Unknown Pleasures, gravado em apenas quatro dias e meio, o Joy Division começa a atrair atenção do público na Inglaterra. As letras de Ian Curtis se destacam, em sua expressão máxima do desespero e angústia humana. Quando o álbum foi lançado em junho de 1979, foi saudado pela crítica inglesa como um dos melhores discos de estréia de todos os tempos.

Os shows do Joy Division começaram a se tornar lendários. A banda ficava imersa em sombras, destacando-se a dança maníaca de Ian Curtis, que era epiléptico e repetia inconscientemente os movimentos que fazia durante seus ataques. O Joy Division já possuía um grupo fiel de admiradores, que seguia–os onde quer que fossem e se vestia à maneira austera da Alemanha dos anos 40.
Em março de 1980, entram em estúdio para gravar o segundo álbum, chamado Closer (Mais Perto; cabe aqui a pergunta: mais perto do quê?). 

Pelo nome e pela capa, deduz-se o que estava por vir. A banda sempre esteve envolta em uma aura de mistério. Tudo em Closer é enigmático: a capa, as letras, e sobretudo o som. O disco foi gravado sob uma abóbada de estuque especialmente construída com a finalidade de conseguir a ressonância de uma capela. O som é vazio e distante com sintetizadores estranhamente colocados, mais o vocal de Curtis soando de maneira cavernosa.

No mês seguinte alguns concertos foram cancelados devido a problemas de saúde do vocalista. O grande número de shows marcados ajudou a piorar a epilepsia de Ian Curtis, que era cada vez mais freqüente. No final de um show no Rainbow, em Londres, Ian teve um ataque epiléptico e acabou caindo violentamente em cima da bateria, para delírio da platéia que não sabia o que estava ocorrendo, achando que fazia parte da apresentação. "As pessoas admiravam Ian pelas coisas que estavam matando-o", descreveu a esposa Deborah Curtis em sua biografia. Uma turnê americana de três semanas estava prevista para iniciar em maio, mas o grupo nem chegou a embarcar.

No dia 18 de maio de 1980, aos 23 anos, Ian Curtis é encontrado morto em sua casa, enforcado por uma corda utilizada como varal. O motivo provável para seu suicídio foi sua epilepsia cada vez mais constante. Curtis falava obsessivamente da morte a ponto de antecipar seu próprio suicídio em letras como In a Lonely Place (Um lugar de paz), talvez ele realmente precisava desse lugar. Terminava assim a carreira de um dos mais influentes grupos de todos os tempos, justamente quando estava preste a atingir seu auge.

O compacto Love Will Tear Us Apart foi lançado em maio e colocou o Joy Division pela primeira vez no Top 20 britânico. O álbum Closer, lançado no mês seguinte, chegou a atingir o número 6 naparada britânica. Ironicamente, o Joy Division atingiu sua maior popularidade quando já havia acabado e Curtis nunca chegou a ver o sucesso que desejava para o grupo. 

O álbum Still lançado em 1981, continha sobras de estúdio e o último concerto do grupo, aumentando ainda mais o culto que foi criado em cima do Joy Division. Os remanescentes da banda, numa necessidade de esquecer a tragédia, deram início a uma Nova Ordem (a banda New Order).
Desespero, melancolia, angústia, dor, mistério... Combinados e apresentados de maneira poética e emocionante. Assim, Ian Curtis tornou-se um mito, e um dos mais obscuros músicos de sua época.

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