Diário de um Vampiro Canalha, parte 2
"Perguntou-lhe Jesus: Qual é o teu nome? Respondeu-lhe: Legião é o meu nome,porque somos muitos." (Marcos 5,9)
Um dos maiores propósitos do vampirismo é a comunhão com os Mortos Vivos. Ela é a base do desenvolvimento astral, assim como exercícios físicos são para os músculos. Ela literalmente pode ser chamada de academia astral, já que, seus sentidos vão ficando aguçados cada vez mais. O vampiro inicialmente busca, a maestria no astral e em cada comunhão ele pede isso. A comunhão pode ser catalisada para conseguir fins de conhecimento, materiais ou astrais, como eu fiz.
O propósito da comunhão é firmar a realidade vampírica na sua mente. O contraste de presa/predador e o seu lugar no tabuleiro. Além disso, ela te esvazia da sua força vital, para que seja feita uma troca daquela força vital, pela Força Vital Deles. E assim você se desenvolve. Dentro da força vital/sangue está toda tua forma de pensar, agir, e seu emocional. Você troca toda tua essência pela essência Deles. Junto com a energia dos Antigos, os pensamentos, filosofias, técnicas e emoções vem. Eles querem sugar de você toda sua humanidade e você quer sugar deles, toda desumanidade. Uma troca perfeita.
A base do vampirismo é essa; é você largar tudo que te torna humano.Crenças, pensamentos, sentimentos, extinguir em você mesmo, aquilo que toda cultura humana te coloca. Trocar isso por novos valores, por uma nova visão do mundo. Posso afirmar hoje os benefícios que essa lavagem cerebral que esses espíritos fizeram em mim, teve. Comecei isso aos meus 13 para 14 anos, não mais que dois dias depois de brincar com a drenagem de vitalidade humana, como viram no episódio anterior.
Meu primeiro contato com os Mortos Vivos, foi, um leve fracasso. Eu resolvi contatá-los no bar do meu pai, enquanto o bar estava fechado. Eu separei tudo; velas pretas da 1,99, vinho mais barato possível e bem escondido dos meus pais, taça virou um copo americano comum, madrugada, furtar o espelho do banheiro sair de fininho e ir até o bar para fazer o ritual. Enfim tudo preparado. Eu poderia conquistar o mundo. A comunhão se iniciou comigo chamando Eles e convocando-os para aparecer diante de mim. Na mesa de plástico, estava lá o espelho, as duas velas pretas, e um copo com vinho. Chamei e Eles imediatamente vieram. Sentia uma arrepio profundo, eu estava nú, e logo olhando pro espelho, pude ver, ou melhor, não ver mais meu reflexo. Era eu, o espelho na minha frente, refletindo o balcão atrás de mim. Fenomenal.
Enquanto baforava minha vitalidade em direção ao espelho, feito um louco, meu corpo ia formigando, algumas mãos iam passando pelo meus ombros, eu escutava uma espécie de sussurros, aos quais, não entendia merda alguma. Era maravilhoso, eu mal tinha aprendido a drenar, já estava lá, convocando uns espíritos de dois mil anos ou mais, com meu piu piu de fora e se esgoelando sem vitalidade. Deve ser divino pra você leitor, visualizar a cena. Quando não aguentava mais soltar minha vitalidade, eu me lembro que apoiei na mesa e parei. Meu corpo tremia, tudo, tudo estava extremamente gelado. Eu ainda ouvia aqueles sussurros estranhos, e um formigamento pelo corpo todo. Eu chamaria de bizarro, se não fosse fenomenal. Bom, seguindo o guia em minhas mãos, recém impresso na lan house, eu fui fazer a declaração; Levantei o copo de vinho e disse com afinco que era um conde Drácula, e que beberia bem mais sangue humano. E fui tomar o vinho.
Eu nunca tinha experimentado bebida alcoólica na época. E vomitei. Vomitei na mesa, no espelho, na pequena bíblia do vampiro recém impressa, se não duvido que tenha atingido algum Morto Vivo. Como um rapaz educado, nem fiz questão de terminar o ritual, e queria escovar logo os dentes pra sair aquele gosto péssimo da minha boca. Eu odiei vinho, com toda a minha alma.
Os efeitos do dia seguinte foram claros; acordei bem vivo, porem com fome. Comi, fui pra escola, e não parava de comer, mas não passava a fome. Até que, quando abracei a Fabíola, eu, por instinto acho, comecei a respirar mais fundo, e sentir o sangue dela entrando em mim. Eu entendi do que sentia fome. Foi um efeito ímpar, e hoje penso, se não foi algo que os Mortos Vivos fizeram só para despertar esse lado em mim. Realmente faz sentido.
A comunhão é primeiramente ensinada na Bíblia do Vampiro, por esse motivo; Eles passam a pensar na sua mente, e pensando dentro da tua mente, te dão técnicas de como realizar os prodígios. Conforme sua ligação cresce, você começa a perceber quem é você pensando na sua mente e quem é Eles pensando nela. É uma espécie de amigo que, ao invés de te aconselhar, te empurra. Eles literalmente te guiam, no que quer que faça. Eu me pergunto se há livre arbítrio, e sempre acho que a resposta fica no meio termo.
Tudo caminha perfeito quando você é seu próprio messias, então, eu como um iluminado antes da crucificação, fui realizando a comunhão diariamente. Na época eu era membro do templo de Satã, tinha acabado de fazer 14 anos, e após levar um 'NÃO' descarado dos Sacerdotes para entrar no Templo, eu mostrei que era o cachorro que manda e consegui entrar, dois meses depois insistindo. alguns de lá contavam suas experiências para mim e acho que por ter um pouco mais de seis mil anos (hihi), a minha paciência permitia responder educadamente. Era uma ligação incrível e eu sentia eles como literalmente irmãos de sangue, mesmo tendo levado um repudio do templo por parte dela um pouco tempo antes de conseguir entrar, ou dos e-mails quilométricos onde eu relatava o que fazia. Na época eu fazia todos os rituais possíveis sem pensar muito, foi nessa época inclusive, que comecei a fazer goécia também pela tradução dele. Mas dane-se, vamos voltar ao vampirismo.
Eu deixei de fazer em casa, e comecei a fazer na praia de madrugada. Morava em frente a ela, minha mãe já tinha descoberto que o filho estava nas mãos de Satanás, e por prazer do destino, ela me deixava viver ao meu modo. As comunhões ao ar livre, começaram a despertar meu corpo astral de modo incrível. Lembro-me numa delas, eu estava de olhos fechados enquanto soltava a vitalidade para os Mortos Vivos, até que eu senti algumas pessoas vindo em minha direção; e realmente tinha, mas ao menos uns 300 metros de mim. Eu sentia as pessoas no calçadão, escutava elas falando, mesmo eu estando na beirada da água, e eles fumando um no calçadão da praia. Eu andava pela rua, em fase do que chamava 'pós-comunhão' sentindo as coisas e as escutando mesmo bem longe de mim. Isso durava um pouco mais de 20 minutos, a comunhão era tipo um LSD espiritual.
A vontade de comungar aumentava e eu fazia todo dia. Sozinho em casa, ou no banheiro escondido quando minha mãe estava, na praia de madrugada, enfim, todo lugar era lugar para chamar os Mortos Vivos. A necessidade de uma invocação formal passou. Se eu me trancasse no banheiro na hora que olhava no espelho, já sentia eles ao meu lado. E os alimentava, e eles desenvolviam algumas coisas incomum. Eu tocava nas pessoas, e sentia algo me ligando a elas, durante o dia todo. Meus sonhos estavam cada vez mais lúcidos, lembrava-os perfeitamente. Não suficiente, eu olhava para pessoas, e via algo branco, em volta da cabeça delas. E esse algo branco foi aumentando, em algumas ficava colorido, até que um dia por acaso do destino descobri que era aura.
Bom, eu não tinha mais o que fazer fisicamente falando, já tinha feito comunhão de tudo quanto é jeito. Então resolvi imaginar. Deitado, eu me visualizei numa sala, vazia, preta, com o espelho e duas velas na frente. E mentalmente comecei Os chamar pra lá. Eles não vieram, eles me levaram. Até hoje não sei o que aconteceu exatamente, porem eu me lembro de ter sido sugado pelo espelho, e ficava passando por uma série de túneis pretos e roxos, enquanto umas figuras me seguravam e falavam alguma coisa que não entendia. Eu me sentia literalmente sendo puxado, sem controle algum, vagando por uma escuridão palpável vira e mexe com tons violetas. Quando cai de volta no corpo, já deu a entender que era uma projeção. Mas tinha algo a mais. Com o corpo tremendo, sentindo uma segunda camada em mim, eu ria sozinho. Eles tinham me respondido.
E assim comecei a me projetar. Eu pedia aos Mortos Vivos, em toda comunhão para me livrar de travas astrais e me deixar vagar livremente pelo astral. E aos poucos isso acontecia, eu tinha umas três/quatro projeções por semana, e nelas vagava pelo mundo, e drenava pessoas. A técnica era sempre a mesma; eu sentava encima do peito da pessoa, e segurava no pescoço, enquanto ia puxando a vitalidade. Me lembro do André reclamando que acordou a noite com um bicho encima dele, e ele ficou sem ar, parecia que esse bicho puxava algo dele. Fui embora da escola no outro dia, feliz da vida por estar sendo mais ruim que o que imaginava ser. Achei fantástico.
Antes que eu pudesse ter um contato realmente físico sexual, com garotos e com garotas, eu tinha chamado os Undead numa dessas projeções. Eu não senti nenhum beijo, amasso, ou toque sensual, porem, Eles me abraçaram, e me causavam um tesão intenso no astral, profundo, quando voltava pro meu corpo, eu estava molhado. Achava interessante esse reflexo do astral no físico e ia buscar um 'sexo-não-sexo' com Eles, todos os dias. A coisa sempre rolava da mesma forma; eu saia do meu corpo, os chamava sentia aquela multidão de sombra preta me abraçando e me causando sensações sexuais e consequentemente me fazendo gozar, sem nenhum tipo de sexo segundo o entendimento humano.
Anos depois, com a bíblia da feitiçaria nas minhas mãos, vi que realizava aquilo que chamavam de Oitava Lei. Só que nessa oitava lei, você iria até eles e lá sim, haveria essa orgia astral. Enfim, era minha próxima meta.
O Olho de Set é a dimensão aonde vive os Undead. Eu não sei exatamente como chegar, eles falam apenas sobre um Buraco Negro, que você iria ver, quando saísse do planeta. Na verdade, eu nunca me preocupei com isso. Pra chegar lá, eu sempre usava a mesma técnica. Saia do meu corpo, e me focava no Olho de Set. O astral me levava até lá, sem me preocupar, tanto com caminhos. Era sempre uma sala, 'vazia' se for analisado o tamanho dela versus a quantidade de pessoas, e consequentemente uma dança que todos faziam. As pessoas, na verdade eu nunca vi um Undead de outra forma, a não ser como sombra, paravam, me olhavam e depois todo mundo vinha me abraçar. O resto vocês já sabem.
Algumas pessoas, são extremamente contra manter contato prolongado com Eles. EU acho algo impróprio e aconselho a fazer disso uma experiência de curta duração. Até fiz um texto sobre o assunto aqui. Os Mortos Vivos não precisam, exatamente de servidão, ou adoração. É uma troca. Você tem algo que Eles querem, e você quer algo deles. Aos poucos, nasce uma certa amizade com esses espíritos, e alguns até vem eventualmente trocar um lero contigo. Além da minha experiência com, eu venho acompanhando de perto experiências de pessoas que aprendem vampirismo comigo, e de outros que me buscam por meio virtual para conversar sobre. E todas as experiências me levaram ao mesmo caminho.
Depois de tanto tempo fazendo comunhão, você acaba entendendo que ela é um, instrumento básico, no vampirismo, não um fim em si. Ela é uma pratica do vampirismo, extremamente útil, inicialmente, e logo após descartada. Fisicamente falando, sempre vi relatos de Mortos Vivos aparecerem na câmara ritual e tudo mais, porem comigo, não rolava. Muitas pessoas, que fizeram comunhão comigo, já viram ou veem toda vez que faço, Eles. Seja no espelho ou parado perto deles. Eu desenvolvi uma ligação profunda com os Undead, e mantinha a ligação por capricho. Não mais necessitava, mas sempre ia atrás para manter amizade.
Fazia comunhão não mais em rituais, mas sim, voltando da faculdade, ou indo pra ela, andando na rua, em qualquer lugar. Chega uma hora no vampirismo, que você percebe que não existe mais os Mortos Vivos externamente falando; você se torna os Mortos Vivos.
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