Depois de algum tempo sem postar meus caros.. Falarei hoje sobre algo um pouco esquecido o Paganismo..
Hoje vivemos em um mundo judaico-cristão, e por mais que a espiritualidade pagã (ou neopagã) seja independente dessas religiões de massas – e nem deva satisfações a elas – penso ser praticamente impossível, ao menos aqui no Brasil, escrever sobre paganismo sem falar, pelo menos introdutoriamente, no cristianismo. É um tipo de referência histórica, social e até mesmo espiritual que não pode ser descartada ou ignorada: o desconhecimento das relações ao longo do tempo entre paganismo e cristianismo é um terreno fértil para o florescimento do senso comum e do discurso – já ultrapassado, ao meu ver –, por exemplo, da polarização de ódio entre pagãos X cristãos. Ou pior: a síndrome da vitimização dos “tempos das fogueiras”.
Falo isso não desconsiderando o fato de que vivemos sim em um período onde qualquer crença que não seja a crença da “massa” é demonizada e desrespeitada – diferente disso, eu tenho consciência, inclusive, da necessidade de uma postura política e social mais rígida e pró-ativa no que toca à defesa das nossas liberdades constitucionais. Mas, ainda assim, penso que o paganismo brasileiro ainda caminha a passos lentos (fortes, mas lentos) e ainda está aprendendo a engatinhar. E justamente por isso é a hora de determo-nos, primeiro, na nossa formação intelectual e conceitual. É em função dessa necessidade primária que o discurso de ódio deve ser relegado a segundo plano.
O que o paganismo representa historicamente? E mais importante do que isso, qual é a sua proposta para os dias atuais? O que ele oferece ao indivíduo contemporâneo? E à sociedade? O que ele nos tira? Essas e outras reflexões devem estar sempre se reciclando na mente de todo pagão do séc. XXI. É através desse tipo de reflexão – que insisto, não é só espiritual, mas também social e política – que a mudança efetiva poderá ser realizada. O paganismo hoje é desrespeitado e marginalizado, bem sabemos. E o caminho para a reversão dessa situação não é fácil: precisaremos ler mais, pesquisar mais – e talvez o mais difícil – questionar o discurso senso comum e refletir mais.
O discurso defensivo é o discurso da vitimização. É a noção de que o paganismo é uma religião que nos chegou aos pedaços em função de um grupo de católicos sanguinários. É a imagem de uma busca utópica aos tempos dourados do passado onde tudo era perfeito, em oposição ao presente, onde as trevas prevalecem. Pode ser frustrante ler isso, mas essa imagem de paganismo não é a minha. Não é a minha pois penso que historicamente ela não faz sentido algum, e mais do que isso, socialmente não é uma visão saudável: ela me soa romântica e fundamentalista.
A minha visão de paganismo é a de uma religiosidade que possui novas propostas ao mundo contemporâneo: ao mundo social e ao mundo individual. Coisa que já é demonstrada, dado o número crescente de interesse por religiões e espiritualidades alternativas às doutrinas tradicionalmente estabelecidas ao longo principalmente da segunda metade do séc. XX. A minha visão de paganismo é a de que a sua defesa consiste na defesa de valores e costumes, valores esses algumas vezes novos, mas muitas vezes antigos também.
E por fim, penso que o que faz a transição entre esses diferentes discursos (entre o defensivo e o pró-ativo) é a conscientização política e a formação intelectual. E essa transição não pode ser feita através do looping do senso comum ou da repetição da visão romanceada das coisas: não somos cavaleiros medievais lutando com monstros cristãos. Aqui será preciso relativizar um pouco as coisas e quebrar um pouco do senso atualmente estabelecido. Vamos desvirar a carta da Torre sobre a mesa e jogar no lixo as revistas de personalidades "esquisotéricas".
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