Sexo é energia. É que garante a movimentação física e pode ser denominado como excitação, animação.A intensidade, o movimento da energia vital, essa força que não se limita aos seres humanos mas está presente na terra, no ar, na água, no fogo, nas plantas e animais, em todos os seres vivos. Compreender que o erótico é uma energia confere a oportunidade para um relacionamento potencialmente erótico com a terra. Nós podemos amar a natureza, não de uma forma abstrata, mas de uma maneira carnal, com nosso corpo e ossos, esse amor que se reflete na vida selvagem pode nos motivar a proteger essa mesma natureza, nos dando a força profunda de que precisamos. Esse amor é a conexão, quando o sentimos profundamente, talvez com uma árvore, quando sentirmos que a sua aura se mescla com a nossa, com o nosso corpo, sentindo a energia fluir pelo solo e suas raízes, nos permitindo mergulhar e sentir-se um com o Ser-Árvore, assim então poderemos manter a luta para afastar os machados e serras de seus troncos, a radiação extrema de suas folhas, pois a amamos profundamente e esse amor nos conecta a tudo.
Reconhecer que o erótico é uma forma de energia é restaurar eros (A raiz da palavra erótico, o Deus grego do amor que une) em todo o nosso corpo, escapar da limitação de o te-lo em algumas pequenas partes de prazer em nosso corpo. Assim todo o organismo físico se torna um órgão de desfrute e prazer. Com isso podemos responder com prazer a toda a beleza plural que existe neste mundo vivente.
Eros como energia molda muitos aspectos de nossa cultura e aparece de muitas maneiras: cru, uma luxúria instintiva, um amor pessoal e criador de laços afetivos, bem como o poder de curar, de aprender, de criar, já que tudo isso é investido de amor, investido de Eros e teoricamente exercido com amor. O sexo instintivo, a luxúria animal, foi reconhecida em outras culturas como uma força sagrada. Eros indomado era conhecido por gerar uma energia poderosa que foi conectada com o crescimento e a fertilidade de plantas e vida animal. Os ritos conhecidos como “Ritos de Fertilidade” representados nos campos e as orgias sagradas que honravam a sacralidade do instinto e o poder da força vital que pulsa em humanos não menos do que em outros animal.
É difícil para se imaginar como se dava esses rituais. Na nossa cultura, tudo o que é impessoal é supervalorizado. Se experimentamos o sexo casual, luxurioso, não é no contexto de nos conectarmos – de nos reconhecermos como natureza bem como animais – mas no contexto de tornar o outro ou a nós mesmos objetos. Então a jovem que oferecia a virgindade nos portões da Babilônia são conhecidas hoje como prostitutas, ainda que em sua sociedade elas estivessem agindo como sacerdotisas da Deusa, honrando-A e seus instinto e honrando também o Deus Eros seja qual for a forma que ele se apresentasse.
O erótico é o pessoal. A energia que se entrelaça e cria vínculos, une – talvez, realmente isso seja o resultado do que o erótico realmente seja. – cria um vínculo que não é baseado em exploração. O erótico aqui é visto como um meio de conectar as pessoas e as coisas, de crescer e dar um propósito e nos dar prazer. Sexualidade é o meio com o qual nós, adultos, experienciamos essa dança única e íntima, enraizadas profundamente nas cavernas do corpo. Pois é durante o sexo que mergulhamos, deixamos acontecer, nos libertamos, nos tornamos um com o outro, nos permitirmos ser cuidados, acariciados, envolvidos, nos permitimos deixar que toda essa sensação de separação se dissolva. Mas é no sexo que também sentimos nosso impacto no outro, vemos nosso reflexo nos olhos do outro, nos confirmamos e afirmamos, nosso poder e nosso ser e também como seres humanos, fazendo o outro sentir.
O erótico pode ser a ponte que liga o sentir com o agir, pode infundir nosso senso de capacidade e controlar com as emoções para que isso se torne a serviço da vida e não destrutivo. No dialeto de se fundir e separar, o erótico pode confirmar nossa singularidade enquanto afirma nossa unicidade profunda que se conecta com todos os seres. É o reino em que o espiritual, o politico e o pessoal se tornam um. Uma verdadeira transformação do nosso mundo requere que reivindiquemos o erótico como um poder interior, o poder de escolha, o poder fazer!
Erotismo é ser e estar em relação, é ter noção do seu impacto na vida do outro, é estar inteiro e completo, sendo honesto consigo mesmo e com o outro.
A troca de energia erótica cria padrões, formas, entidades, uma energia estruturada. Tradicionalmente é a base da família. Pode ser o modelo de criação de laços para todas as sociedades e associações, todas as conexões livres. A família reflete a cultura, que reflete consequentemente a família em uma dinâmica dialética. E as crianças como crescem dentro das familias, acabam refletindo a sua estrutura na formação de seus Selfs mais profundos. Então a nossa psique cresce em padrões de autoridade e dominação.
Aprender e ensinar, também podem ser afazeres eróticos – e não exercícios estéreis em demonstração de capacidade intelectual, mas jornadas unidas. Não é somente explicar a Deusa, é invoca-La, criar um vínculo, elevar Seu poder para que cada estudante saiba como Ela é em seu próprio corpo, do seu jeito, único, individual. Nosso objetivo como orientadores não é demonstrar nosso conhecimento ou poder, mas criar um contexto que evoque o poder interior de cada um dentro do circulo.
O trabalho também pode se tornar mais vivo com o poder do erotismo. O propósito dos antigos ritos de fertilidade não era somente acordar o poder da terra e leva-lo para o solo preparado para abençoar as sementes do ano.Era para investir de energia até mesmo o trabalho de plantar, colher e arar com lembranças evocativas, para conectar o trabalho com as forças mais profundas de vida e morte.
Claro, nem todo trabalho é prazeroso ou potencialmente sexual. Mas mesmo assim em nossa rotina diária, nós podemos sentir nosso impacto no mundo, nos ver espelhado nas mudanças que nós mesmos criamos – quando concertamos algo que está quebrado, limpamos algo sujo ou construímos algo que não existia antes.
Magia Sexual
O aspecto mais simples da polaridade é a energia que flui entre homens e mulheres. Em muitos grupos tradicionais da arte, grupos tântricos e algumas tribos nativas americanas, a polaridade Macho-Fêmea é o supra-sumo, por assim dizer, que faz a magia acontecer. Então alguns covens insistem em ter um numero igual de homens e mulheres e alguns shamans homens precisam ter uma conexão mais íntima com uma mulher visando gerar energia e força.
No entanto, polaridade pode ser também criada internamente. Se uma mulher criar um ser masculino internamente, ou um homem criar um ser feminino internamente, a polaridade pode fluir entre uma pessoa e o self-companheiro. É importante dizer que não se deve associar agressão ou passividade ao self-companheiro, comportamentos muito comumente associado a ser macho ou ser fêmea. O self-companheiro não é o Animus ou Anima como dito por Jung, não completa a personalidade, muito pelo contrário, é uma fonte de energia. Fazendo uma analogia metafórica, criar um self-companheiro é como construir um gerador de energia próprio em seu porão ao invés de estar conectado com os cabos da companhia elétrica.
E polaridade não precisa ser gerada necessariamente entre parceiros de acordo com o modelo heterossexual. Existem correntes Fêmeas-Fêmeas e Machos-Machos de polaridade, e cada uma delas pode ser gerada tanto por uma parceira física quanto pela criação de um self-companheiro. Isso vai depender de com o que você se sente mais a vontade, um homem pode criar um self-companheiro macho assim como uma mulher pode criar um self-companheiro fêmea. As correntes podem ter um sabor diferente, mas serem iguais em força e muitas vezes até mais fortes que as polaridades heterossexuais. Cada forma de polaridade que a pessoa escolher trabalhar varia conforme uma escolha pessoal e inclinação. Mas dentro de uma comunidade saudavel, todas as formas são necessárias para que a harmonia seja sustentada.
No entanto polaridade não pode ser descrita totalmente, somente experienciada. Os leitores que se sentirem prontos para esta experiência podem tentar realizar alguns dos exercícios a seguir:
O espelho
Se você não gosta do seu corpo, você não está sozinho. Muitos de nós em nossa cultura fomos treinados para odiar nosso corpo, em desejar que ele se mostrasse diferente.
Imagine que esse sentimento de desgosto pelo seu corpo é um fluxo grudento, ruim que flui para fora de você através de sua respiração e segue para a água salgada. Pegue a vasilha e respire sobre ela, faça sons que ajudem a carregar todo esse muco de sentimentos ruins para fora.
Quando se sentir pronto, relaxe. Respirando profundamente, com o seu abdômen, capte a energia da terra através de suas raízes energéticas como se fosse um córrego de águas cristalinas e límpidas que fluí através da sua respiração para a vasilha de água salgada e limpa toda a negatividade. Quando sentir que a água salgada esta limpa e brilhante, tome um golinho – pois você não esta tentando se livrar de seus sentimentos negativos, você está os transformando para libertar as energias que contém neles
Repita esse ritual em intervalos regulares até que você consiga amar o seu corpo. É interessante tentar outras atividades novas como dança, massagem, caminhadas ou algum outro esporte que permita que você se sinta forte e aprecie o seu corpo e o modo como ele é, exercícios físicos são sempre saudáveis, aprenda a amar o seu corpo do jeito que ele é.
O duplo
Observe como essa corrente energética te faz sentir, como ela é. Dê um nome para o seu duplo e lhe confira uma imagem ou palavras que você possa usar para evocar esse sentimento , essa energia que você esta experienciando agora que fluí entre você e seu duplo.
Converse com seu Duplo, ou se quiser, faça amor com ele. Quando estiver pronto, agradeça o seu duplo e pergunte como você pode chama-lo de volta. Aterre a energia colocando as suas mãos no solo (ou no chão) e visualizando que as correntes energéticas estão retornando para a terra.
O self-companheiro
Agora, imagine que sua imagem no espelho começa a mudar. Se você é uma mulher, vai se tornando mais masculina, se for um homem, sua imagem vai se tornando mais feminina. A mudança ocorre aos poucos, de cima para baixo. Seus cabelos, orelhas, olhos, boca e maxilares mudam, seu pescoço ombro e assim por diante vão mudando aos poucos. Caso tenha dificuldades em imaginar e visualizar as mudanças de olhos abertos, feche-os, deixe a energia fluir. Sinta uma afeição pela imagem criada no espelho, expire esse sentimento para a imagem, deixe-a construir, faça sons e movimentos que ajudem essa energia crescer até e tornar uma corrente de energia forte entre vocês.
Sinta como essa corrente energética que fluí entre vocês se parece, como é esse sentimento e conecte uma imagem ou palavra que possa ser usada para evocar essa energia novamente. Converse, brinque, faça amor!
Quando terminar, agradeça o seu self companheiro e pergunte como você pode chama-lo de volta. Aterre as energias.
Amante da Natureza
Vá para o seu jardim, uma floresta, um campo ou mesmo seu quinta com alguns vasos de plantas, encontre algo que você se afeiçoe e que seja natural, uma pedra, uma planta, árvore, um riacho. Sente-se e fique confortável. Concentre-se, fixe suas raízes e centre-se. Invoque a energia que você sentiu com seu duplo ou com seu self-companheiro. Utilize a palavra de poder para isso. Deixe que essa corrente energética flua para a planta até que sinta que a energia esta sendo enviada para você também. Aprecie esse momento de troca.Quando tiver terminado, aterre as energias e centre-se. Este exercício é uma cura, para ambos, tente fazer sempre que puder e veja os resultados em seu jardim!
Use a sua imaginação para expandir e transformar estes exercícios ou mesmo para criar os seus próprios métodos. A força que você aprendeu a reconhecer como sua própria pode ser chamada quando você precisar. Deixe que ela te inspire, te deixando criativo, forte em seu trabalho, use-a para fazer seu jardim crescer, curar suas doenças, despertar seu coração. Movimente-a para as suas mãos quando for tocar em alguém, leve-a aos seus olhos e fôlego e voz quando for desafiado a confrontar as injustiças. Invoque-a em seu circulo.
E não tenha medo de abrir mão, de deixar ir. Como toda energia, a força erótica se move em ciclos, num fluxo e refluxo. Está sempre disponível, mas sempre que o utilizamos, ele retrocede. O refluxo é o tempo de quietude, de descanso – o silêncio entre o pulsar do coração, o silêncio entre o pulsar dos tambores, entre os ritmos da natureza.
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