27 de março de 2013

Delírio



"Quem pode saber o que Delírio vê através de seus olhos desiguais?"

Delírio é a mais jovem dos Perpétuos. Ela cheira a suor, vinho azedo, noites tardias e couro velho.

Seu reino é próximo, e pode ser facilmente visitado. As mentes humanas, porém, não foram feitas para compreender seu domínio, e os poucos que viajaram até ele conseguiram relatar apenas fragmentos perdidos.

Sua aparência, um amontoado de idéias vestidas no semblante da carne, é a mais variável de todos os Perpétuos.
A forma e o contorno de sua sombra não têm relação com a de nenhum corpo que esteja usando.
Ela é tangível como veludo gasto.
Delírio tende a se tornar borboletas ou peixes dourados, agora e sempre.

Alguns dizem que a grande frustração de Delírio é saber que, apesar de ser mais velha que as estrelas e mais antiga que os deuses, ela continua sendo, eternamente, a mais jovem da família, pois os Perpétuos não medem tempo como nós nem vêem mundos através de olhos mortais.

O poeta Coleridge afirmou tê-la conhecido intimamente, mas o sujeito não passava de um mentiroso inveterado.
Portanto, devemos duvidar de cada palavra sua.

Um dia, Delírio também foi Deleite.
E, embora isso tenha sido há muito tempo, ainda hoje seus olhos têm matizes diferentes: um é verde-esmeralda bem vivo, salpicado de pontos prateados; o outro é do mesmo azul que esconde sangue dentro de veias mortais. Ela vê o mundo de seu própria e única visão.

Os Perpétuos acreditam que apenas Delírio sabe porquê ela mudou.

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