27 de março de 2013

Desejo




"Seres humanos são criaturas de Desejo. Eles se torcem e dobram como eu exijo."


Só há uma coisa pra se ver no reino crepuscular de Desejo. É o que se chama limiar, a fortaleza do Desejo.

Desejo sempre morou no limite.

O limiar é maior do que podemos imaginar. É uma estátua de Desejo, ele ou ela própria.
(Desejo nunca se satisfez com um único sexo. Ou apenas uma de qualquer coisa... Exceto, talvez, o próprio limiar.)
O limiar é um retrato do Desejo, completo em todos os detalhes, erguido, a partir de seus caprichos, com sangue, carne, osso e pele. E, como toda verdadeira cidadela desde o início dos tempos, o limiar é  habitado. O lugar só tem um ocupante neste momento.

O Desejo dos Perpétuos.

O limiar é grande demais para apenas uma pessoa. Contém dois tímpanos maiores que uma dúzia de salões de baile. E veias vazias e ressonantes como túneis. É possível andar nelas até envelhecer e morrer sem passar novamente pelo mesmo lugar. Entretanto, dado o temperamento de Desejo, só há um lugar em toda a catedral de seu corpo que lhe serve como lar.

Desejo mora no coração.

É improvável que qualquer retrato consiga fazer jus a Desejo, pois vê-la (ou vê-lo) seria o mesmo que amá-lo (ou amá-la) - apaixonadamente, dolorosamente, até a exclusão de tudo o mais.

Desejo exala um perfume quase subliminar de pêssegos no verão e projeta duas sombras: uma negra
e de nítidos contornos; a outra sempre ondulante, como neblina no calor.

Desejo sorri em breves lampejos, da mesma forma que o brilho do Sol reluz no gume de uma faca. E há muito, muito mais do gume de uma faca na essência de Desejo.

Jamais a(o) possuída(o), sempre o(a) possuidor(a), com pele tão pálida quanto fumaça, e olhos aguçados como vinho.

Desejo é tudo o que você sempre quis.

Quem quer que seja você.
O que quer que seja você.

Tudo.

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