Assistir TV é uma atividade bastante comum a qual se dedica atenção com bastante facilidade. Pela quantidade de estímulos disponíveis numa TV é muito fácil manter-se concentrado nela de forma imersiva. No entanto, dificilmente a TV está num ambiente completamente isolado e permanece competindo com outros estímulos. Diversas sensações tateis, visuais e auditivas competem pela atenção do indivíduo, mas ainda assim não é difícil se concentrar num programa televisivo. Isso ocorre porque a nossa percepção é seletiva, não podemos perceber com a mesma intensidade tudo que é apreendido pelos nossos sentidos, do contrário não conseguiríamos tomar decisões de forma eficiente. Nosso cérebro tem de selecionar o que é mais relevante num momento específico.
Sensação, percepção e atenção são coisas bem diferentes. Como quase tudo no mundo das psicologias, não há exatamente um consenso quanto a definição dessas três coisas, mas podemos considerar, em linhas gerais e para o bem da compreensão do tema principal deste texto, o seguinte: as sensações são o que nossos sentidos (paladar, tato, olfato, audição, visão) nos fornecem, logo são essencialmente estímulos fisiológicos; a atenção é um processo mental que consiste em focarmos nossa percepção em algumas sensações ou estímulos sensoriais em detrimento de outros igualmente disponíveis; e a percepção é uma função cerebral que nos permite atribuir significado aos estímulos e é influenciada pela nossa história de vida, por todas as nossas vivências até o aqui e o agora. Daí a razão pela qual algumas pessoas percebem certas coisas que outras não percebem, ainda que os sentidos de ambas funcionem da mesma forma. Olhar pode ser diferente de ver, ouvir pode ser diferente de escutar e sentir pode ser diferente de experimentar. A diferença está justamente na questão “Onde a sua atenção está?”. Onde ela estiver, sua percepção estará mais concentrada. Você vai olhar porque tem olhos que funcionam, ouvir porque tem ouvidos e sentir porque tem tato, com ou sem atenção, mas só vai ver, escutar e experimentar as coisas nas quais sua atenção estiver focada.
Entretanto, isso não significa dizer que não possível perceber estímulos fora do foco principal de atenção, afinal, certas sensações tem de ser percebidas, pois poderiam, dentre outras coisas, indicar situações de risco que precisam ser notadas pelo bem de nossa autopreservação. Se você está lendo este texto e sente um cheiro desagradável de gás, imediatamente a sua atenção mudaria de foco. Isso significa que nossa percepção não se desliga totalmente para os outros estímulos que não estão recebendo atenção diretamente. No caso do vazamento de gás, passamos a dar atenção ao cheiro desagradável porque ele se torna, de certo modo impossível de ignorar, se o cheiro for muito sutil e não durar o suficiente, podemos não percebê-lo. Isso se dá porque, além de nossos sentidos não serem capazes de aprender tudo que está a nossa volta — não podemos ouvir certas freqüências de som, nem ver certas freqüências do espectro eletromagnético, como a luz ultravioleta —, o foco de nossa atenção e, conseqüentemente, de nossa percepção está a mercê dos contrastes. Isso significa que se o novo estímulo não tiver numa intensidade tal que estabeleça suficiente contraste com o estímulo atual, provavelmente iremos ignorá-lo. Mas ainda assim podemos percebê-lo, pois a percepção ocorre em dois níveis: consciente e inconsciente.
Parece um contra-senso perceber algo de modo inconsciente. E justamente por ela não ser consciente é difícil pensar em exemplos cotidianos para ela, afinal, se alguém soubesse as coisas que percebe inconscientemente elas seriam percepções conscientes. Todavia, encontrei um artigo falando sobre uma experiência que procurou investigar esse nível de percepção através do teste de alterações da condutibilidade elétrica da superfície da pele de sujeitos com fobias específicas (medo de aranhas, por exemplo). A condutibilidade elétrica da pela se altera quando reagimos a algum estímulo, logo, ao medir esta variável em pessoas expostas a imagens de seu objeto de fobia (a imagem de uma aranha), que eram exibidas em condições específicas e em um intervalo de tempo que teoricamente seria imperceptível conscientemente para um ser humano, os pesquisadores buscaram descobrir se, mesmo não tendo consciência de que viram uma imagem de seu objeto fóbico, as pessoas percebiam em nível não consciente a imagem, o que se constataria pelas alterações mensuradas na condutibilidade elétrica da pele. Os resultados do experimento indicaram que sim, os sujeitos investigados reagiam às imagens que não eram vistas conscientemente. Percebam que, para que as pessoas com fobia tenham alteração na variável investigada, elas precisam atribuir significado a imagem, precisam percebê-la, e isso indica que podemos perceber sim estímulos de modo inconsciente. No entanto, apesar de ter havido percepção, o comportamento dos sujeitos não se alterou devido isso, mesmo em relação a uma fobia, algo que gera reações muito fortes.
De acordo com o senso comum, as mensagens subliminares são mensagens ocultas em diversos tipos de mídia que nos fazem mudar de comportamento em relação a algo. Fazem-nos comprar mais, querer algo que não queríamos, adorar Satanás e querer fazer sexo com todo mundo. A explicação dada, ainda pelo senso comum, é que as mensagens subliminares falam diretamente ao nosso subconsciente/inconsciente, como uma espécie de hipnose, e assim, podemos ser facilmente controlados por estas informações ocultas.
Faz-se uma grande confusão a partir dessa conceituação incorreta e sem fundamentos do senso comum. Diversas pessoas acreditam que, por exemplo, o caminhão da Coca-cola que passa no plano de fundo do filme que assistimos é uma mensagem subliminar. Não, não é. Isto se chama exposição não-obstrusiva e é o mesmo que aquelas placas com marcas em volta do campo de futebol. Servem para atribuir familiaridade a uma determinada marca, pois em algum momento, depois de ver o filme mais de uma vez, ou durante alguma pausa no jogo, você ira perceber conscientemente aquela informação e é só isso que os publicitários querem: fazer com que a marca seja vista e reconhecida. Eles até gostariam de controlar as nossas mentes, mas até hoje eles não conseguiram.
Para a psicologia, como eu expliquei lá em cima, o que existem são percepções inconscientes, subliminares por estarem abaixo do limiar de percepção consciente. As mensagens subliminares se utilizariam desses limites, no entanto, mesmo que suponhamos que elas influenciam as decisões das pessoas, hipótese para qual até hoje não há evidências, seria impossível criar uma mensagem subliminar que atingisse a todos, pois os limiares perceptivos de cada indivíduo são diferentes devido a fatores pessoas, culturais, sociais e psicológicos diversos que se entrelaçam de modo complexo.
Se você vai ao supermercado com a(o) sua(eu) namorada(o) para comprar algum produto e este produto esta disponível em diversas marcas. Você pode ter diversos critérios para decidir qual das marcas você irá levar. Digamos que você já sabe qual você quer e suponhamos também que você tem certeza do que quer porque você está influenciado por uma mensagem subliminar. Ainda assim, basta seu amoreco dizer “Ah não, mô, leva esse não, esse não presta, leva esse aqui ó, eu já comprei e é ótimo!”. Pronto, lá se foi o controle mental das mensagens subliminares.
Assim sendo, as mensagens subliminares tem muito menos influência na sua vida, do que a opinião de pessoas próximas a você (cônjuges, familiares, amigos, colegas), logo, é com eles que você deve se preocupar, pois são eles que querem controlar a sua mente.
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