7 de março de 2012

Mary Shelley

Mary Wollstonecraft Godwin nasceu em 30 de agosto de 1797 na cidade de Londres. Era segunda filha de Mary Wollstonecraft, feminista, educadora e escritora; e primeira filha de William Godwin, escritor, jornalista e filósofo.
No entanto, Mary Wollstonecraft faleceu dez dias após o nascimento de sua segunda filha; fato que atribuiu à William Godwin a responsabilidade da criação e educação da jovem Mary Godwin e de Fanny Imlay, filha da Sra. Wollstonecraft com Gilbert Imlay.


A obra do Sr. Godwin, intitulada Memoirs of the Author of A Vindication of the Rights of Woman, publicada um ano após a morte de sua esposa como uma homenagem à falecida, foi recebida pelo público com um certo espanto, pois expunha as relações extra-matrimoniais da Sra. Wollstonecraft. No entanto, esta obra foi de grande importância para que, posteriormente, Mary Godwin conhecesse a biografia de sua própria mãe e alimentasse uma admiração que se estenderia por toda sua vida.
Em dezembro de 1801, o Sr. Godwin casou-se novamente, desta vez com Mary Jane Clairmont, que já trazia dois filhos jovens, Charles e Claire. Segundo pessoas próximas à recém formada família, Mary Jane era uma mulher temperamental que dedicava sua atenção maternal exclusivamente a seus filhos, em detrimento de Mary Godwin e Fanny Imlay. Este fato contribuiu para uma convivência pouco harmoniosa entre Mary Godwin e sua madrasta.

Nesta mesma época, o Sr. Godwin estabeleceu-se como comerciante de livros infantis e papelaria. Infelizmente, sua empreitada não obteve o sucesso esperado e Godwin viu-se obrigado a recorrer a empréstimos constantes. Este ciclo de dívidas atingiu seu ápice em 1809, quando o falido comerciante recebeu apoio financeiro de amigos.

Ainda assim, segundo registros, a infância de Mary Godwin foi plena e saudável com muita apreciação à leitura e aos estudos. Embora tivesse recebido uma educação formal bastante deficitária, Mary recebeu de seu pai um grande apoio intelectual. Sendo ele o responsável por grande parte da formação educacional da jovem Mary, oferecendo-lhe acesso ao seu acervo pessoal de livros, manuscritos de própria autoria e a inestimável convivência com pensadores como Samuel Taylor Coleridge.
Este ambiente proporcionou à jovem Mary um apreço especial pela literatura; tanto que aos dez anos de idade já escrevia seus primeiros versos. Ainda, Mary freqüentou, em 1811, um colégio interno em Ramsgate.

No ano seguinte, foi enviada por seu pai à cidade de Dundee, Escócia, sob a responsabilidade de William Baxterher. Porém, esse afastamento súbito e aparentemente sem motivo de Mary do convívio familiar gerou boatos sobre sua saúde e até mesmo comentários de que o Sr. Godwin tomara esta decisão visando integrar sua filha ao mundo da política.

De qualquer forma, Mary conviveu harmoniosamente na residência do William Baxterher e na companhia de suas quatro filhas. No ano seguinte, retornou à casa de seu pai por onde permaneceu por apenas dez meses, retornando em seguida para a Escócia. Foi nesta ocasião, que conheceu pessoalmente o já renomado escritor Percy Bysshe Shelley, cinco anos mais velho, casado com Harriet Westbrook, pai de dois filhos e amigo pessoal de Baxterher.

Já em 1814, Mary inicia um relacionamento amoroso com Percy e, juntamente com sua meia-irmã Claire Clairmont, parte rumo à França e posteriormente outros países da Europa. Quando retornam à Inglaterra, Mary vê-se grávida de Percy. No entanto, a morte prematura da criança e a instabilidade financeira trazem sérias dificuldades ao casal.

Após o suicídio de Harriet, esposa legal de Percy, Mary e Percy casam-se formalmente em 1816. No mesmo ano, o casal passa o verão na Suíça em companhia de Lord Byron, John William Polidori e Claire Clairmont. Foi nesta viagem que Mary, agora formalmente como Mary Shelley, incentivada por Byron, idealiza sua obra Frankenstein - O Moderno Prometeus (título completo). Frankenstein tornaria-se uma referência da literatura de horror e ganharia, em um futuro breve, diversas releituras teatrais e cinematográficas, como no filme dirigido por James Whale e tendo como principal protagonista Boris Karloff, em 1931.

No ano de 1817, Mary publica um diário sobre suas viagens pela Europa. Em 1818, Percy e Mary deixam a Inglaterra e instalam-se na Itália. Foi também neste ano que Frankenstein chegou ao grande público. Nos anos seguintes, o casal sofre a perda prematura de dois filhos. Apenas a terceira criança, Percy Florence, nasce e cresce com saúde. Neste mesmo período, a obra Mathilda, que aborda incesto e suicídio, é publicada em 1820.


Em 1822, uma nova tragédia familiar: Percy Shelley afoga-se durante um passeio de barco, quando foi surpreendido por uma tempestade, na Baía de La Spezia. Em 1823 Mary e seu filho retornam à Inglaterra e a novela histórica Valperga foi publicada. A partir deste momento, Mary empenha-se na educação do jovem e dedica-se profissionalmente à literatura e às publicações de seu falecido marido.

Em 1826 é publicado The Last Man, trabalho que aborda sob um ponto de vista científico e apocalíptico o fim da humanidade em virtude de uma praga. Nos anos seguintes, a autora, ainda num período criativo muito fértil, elabora e publica diversas obras, entre elas destacam-se The Fortunes of Perkin Warbeck: A Romance, Lodore e Falkner.

No final dos anos 40, Mary passou a sofrer de fortes dores de cabeça e paralisia. E, no primeiro dia do mês de fevereiro de 1851, aos cinqüenta e três anos de idade, foi constatado seu óbito, vitimada por um tumor cerebral.

A vida e obra de Mary Shelley são intensas, profundas e ousadas. No entanto, dissociar o monstro de Frankenstein de sua autora é impossível. Até mesmo porque o monstro de Shelley representa, de certa forma, anseios que sua própria criadora cultivava em seu âmago: a ressurreição. Talvez, no ponto de vista de biógrafos, a ressurreição de seus filhos; ou num ponto de vista existencial, a ressurreição da mulher, da alma feminina que, orientada por uma mente prodigiosa, ousou vencer os obstáculos que a sociedade lhe impunha, registrando seu nome na história da literatura mundial.

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