17 de março de 2012

Realidades Vampyricas (parte1)

Na madrugada deste último domingo 24/06/2007 o canal da tv paga National Geographic Channel ou NATGeo exibiu um documentário da série "Is it Real?" que explora o mito e o folclore do vampiro sob a ótica da moderna ciência forense, que pode recordar a alguns os trabalhos mais recentes de Katherine Ramsland - Science of Vampires. Tópicos legais:

- alusão à necessidade de criação de bodes expiatórios em sociedades (tribalizadas)
Muitos casos de vampiros entre o final do século 13 e metade do século 20, eram o de pessoas que já estavam mortas e enterradas (que devido a uma vida alternativa ou em moldes contrários das sociedade onde viviam) eram desenterradas, decapitadas e as vezes incineradas e vitimas de outras agressões por católicos ortodoxos e romanos. A diferença entre a Bruxa e o Vampiro na questão de se tornarem bodes expiatórios é que a Bruxa era morta em vida e o vampiro em sua amplitude de casos era "morto" depois de morto e enterrado. Ao eliminar o bode expiatório, as pessoas se sentiam aliviadas e livres dos "pecados" que projetavam sobre estes.

- o documentário também ressalta que males como a pneumonia e a tuberculose, só foram classificadas como doenças depois da invenção do microscópio e da descoberta de bactérias, vírus e outrens; e muitas de suas vítimas, e a forma como eles infectavam as pessoas de uma casa - através do ar e da pouca higiene - eram comparadas à ação do ser mítico e folclórico chamado vampiro.

- o documentário ambém explora e oferece algum aprofundamento sobre a corrutela do uso do termo eslavo "Upyr"(um tipo de espirito telúrico do folclore eslavo), quando passou a ser usado como sinônimo para "Eretyks"(heréticos) - membros de seitas heréticas e apócrifas tanto no catolicismo ortodoxo como no romano do meios do século 13 em diante.
(Explorarei este assunto com a merecida profundidade em futuros textos - assim que o correio e a importadora de livros colaborarem)

- naturalmente o documentário citou alguns criminosos que ainda são associados ao "mito do vampiro" o que queima o filme dos apreciadores do mito e da moderna Subcultura Vampyrica - que também NÃO aprova pessoas que digam caçar outras pessoas e assim praticarem parasitismo, assédio moral, bullyng e outras formas de violência. Ainda assim o narrador fez questão de mencionar que neste caso dos criminosos se tratava de pessoas com graves transtornos emocionais e que eles eram assim adjetivados para o festim da imprensa.

- constatam cientificamente e com exames severos que o sangue é apenas um elemento de fetiche (religioso ou sexual, no caso de dominação) em todas narrativas e mesmo para s que o ingerem de outras pessoas. E ainda comentam sobre os riscos envolvidos para quem realiza este ato repugnante, pois muitas doenças transmissiveis e sem cura podem ser contraídas dessa forma e só vão aparecer nos exames de sangue alguns meses depois.Ou seja, alguém pode ser infectado, fazer um exame de sangue e transmitir algo para quem beber e ambos só vão saber depois de alguns meses. NÃO EXISTE PROCESSO SEGURO E O RISCO É EVIDENTE.

- Uma das cenas mais divertidas são a de pessoas ditas normais numa churrascaria pedindo carne bovina ou suína mal passada, dizendo que amam o sangue. Algumas mais afoitas ali se diziam sanguinárias. Isso me fez pensar nas sandices da violência social como forma de discurso pessoal - o tal do se impor, passar por cima, mostrar quem manda, dominar, agredir, fragmentar e afirmar-se como inrotulável calcado num autoritarismo tosco.

Mantendo um tom de documentário e um texto bem claro e coeso ele foi bastante elogiado no exterior por entusiastas da Subcultura Vampyrica, que aparece em algumas cenas de seus eventos em Los Angeles e Nova Iorque.
Vampyros e Vampyras devem ser a respostas às preces de fotógrafos e cameramens entediados da imprensa mundial. Visto como os mesmos adoram fazer tomadas longas conosco e aqueles "blendings" de sobreposições de imagens.

Adicione a isso alguma trilha sonora com um diabólico violino evidenciando o aspecto forasteiro do cigano ou do judeu, ambos heréticos para o imaginário europeu tribalizado e ritualizado em moldes cristãos... Em um determinado momento atual ou medieval todos estes eram forasteiros.

Entre muitas associações que podemos fazer ao mistério do mito do vampiro deve ser o de lembrar a falibilidade, a imprecisão, o orgânico e principalmente o que é realmente estar vivo e viver sua vida. O que nos leva à temática de apropriar-se da própria vida e ser um protagonista dela em busca da própria totalidade, integrando e lidando com seus valores e cargas interiores.

Vivemos em uma cultura que prima pelo "discurso" quando não existe nenhum discurso. Tudo e todos deveriam ser inrotuláveis, inalcançaveis e inefáveis. Ser em função do que compram, ser iguais e seriados enxergando qualquer forma de individuação como um ato de terror. E aquilo que é temido é marginalizado, fragmentado (tirado de seu contexto original) e coisificado.

Ou um pouco pior, pessoas que buscam por individuação, iniciação ou despertar - através do "dionisíaco" extasiante como fazerem e viverem vinculos e escolhas coerentes com suas identidades, historicidades e personalidades, são transformadas em "bodes expiatórios". Para, dessa forma, as pessoas ditas "normais" jogarem suas culpas e ansiedades nos que procuram por alguma individuação e que tentam resgatar e viver valores pessoais, sonhos, aspirações, espiritualidade (no sentido de expressar o que sente e como sente), gostos musicais alternativos e outras tantas possibilidades.

Ainda hoje vivemos num mundo onde pessoas temem ficar a sós consigo, pessoas temem em ver que são "as outras pessoas das outras pessoas", pessoas temem em olhar o que são, temem realmente olhar o que carregam de morto e estático nas atitudes e nas formas como pensam. E só resta a elas fugir desse suposta sensação de "morto-vivo" e baterem nas costas uma das outras com chavões como "te considero pa krio", "amanhã vc resolve", "tão tah", "vc tem que respeitar".

Pode soar como um pouco de anacronismo da minha parte, dizer que ainda vejo na cultura dominante abordagens, formas de pensar, formas de agir, atavismos, crendices compáraveis esteticamente aos mesmos elementos negativos das vilas distantes nos cafundós da Europa de outros séculos e seus surtos de histeria coletiva em criar bodes expiatórios "sobrenaturais".

E com esses "bodes" justificarem sua incapacidade em lidar com valores como sensualidade, sexualidade, higiene pessoal, medo da morte, apego, incapacidade de gear vínculos sociais saudáveis, luto e processo de luto psicológico, a terra e o cotidiano tratada como algo sujo e impuro, homofobia, rigidez obsessiva e mórbida de caráter, poder baseado em culpa e prostração, sexo só para reprodução, autoritarismos e despotismos, desconhecimento de virus e bactérias, violência contra o que lhe é estranho, necessidade de impor e sujeitar gostos sem argumentos ou recurso opinativo, vinculos afetivos meramente sociais baseados em adquirir mais bens financeiros e de propriedade.

[continua...]

[o conteúdo deste texto pode ser ampliado e revisado com sua colaboração através do mail: officinavampyrica@yahoo.com.br ]

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