2 de março de 2012

Teurgia

Teurgia é uma palavra de origem grega que pode ser traduzida como obra divina (theoi–Deus e ergein-obra) e faz referência a uma modalidade de magia cerimonial que busca através de práticas como orações e rituais incorporar uma manifestação divina no praticante; além de uma aproximação pura e profunda com a divindade em questão.


Teurgia na História

Embora a palavra Teurgia tenha sido aplicada apenas a partir da era romana, as primeiras referências sobre sua prática encontram-se em aproximadamente 10.000 a.C entre os orfistas (adeptos do orfismo – doutrina grega que pregava uma continuidade paradisíaca da existência após a morte) chegando até aproximadamente dois séculos antes da era cristão, quando o texto do Oráculo dos Caldeus especificou instruções distintas para a prática e exercício da Teurgia.
Filósofos neoplatônicos promoveram a Teurgia como uma prática intimamente associada à natureza transcendental. Durante o império bizantino foi citada por Georgios Pletho e Michael Psellus através de referências do Oráculo dos Caldeus. Já na era medieval a Teurgia perdeu sua visibilidade e retornou apenas na renascença através de Cornelius Agrippa, entre outros ocultistas. Nos idos do século XVIII, ganhou notoriedade através de Martinez de Pasqually; posteriormente, rituais teúrgicos foram publicados por Amadou e Ambelain.
Louis Claude de Saitn-Martin, discípulo de Pasqually, através das bases estabelecidas por seu mestre, desenvolveu seu próprio sistema teúrgico e declarou que "Teurgia não é apenas um presente de Deus ao Homem, é uma responsabilidade a qualquer um, desde que sinta o verdadeiro desejo da realização em seu coração; pois Deus oferece ao Homem a oportunidade para ascender tal sentimento em seu coração".


Ritualização

Sob uma definição mais simplista, pode-se compreender que o ritual teúrgico é a manifestação interior do homem através de palavras, orações, meditações e de um desejo intenso de estar associado a Deus.
Segundo seus praticantes, o exercício do ritual teúrgico atinge vários níveis da existência humana como o plano psicológico e, obviamente, o espiritual, através da harmonia plena com Deus. Porém, a transcendência do homem de sua natureza humana é o aspecto mais significativo a ser considerado.
A cerimônia teúrgica oferece ao praticante a liberdade de compor seu próprio ritual de acordo com os princípios legítimos da espiritualidade. Entretanto, pode-se compreender que há uma estrutura central que estabelece algumas noções básicas.
Assim, de acordo com os preceitos teúrgicos, admite-se que a inspiração que motiva o ritual é de origem divina e o homem é o praticante (agente operador) que age em cooperação com a divindade. O sacramento da sagrada sacristia é essencial ao praticante; ou seja, o cerimonial é impraticável se o indivíduo não aceitar em seu espírito a força presente de Deus.
Partindo deste princípio, passa-se aos requisitos básicos que são a motivação, modo de vida e condições ambientais (localidade, clima etc). Em seguida, adota-se quatro virtudes como bases do "templo interior": pureza, amor, fé e remissão. Finalmente, é necessário o estado de oração interior e a manifestação da nipsis (autocontrole da consciência que liberta o espírito de obsessões).
A ritualização efetiva exige uma mesa coberta com um tecido branco (que exerce a função de altar), velas, cruz, incenso, palavras e gestualização do praticante; além do novo testamento expondo o primeiro capítulo do Evangelho de São João.
O início ocorre com o ato de contrição e a expressão do arrependimento seguido da invocação do anjo guardião. Em seguida, passa-se aos louvores e à glorificação; além da verbalização das orações. Finaliza-se com a operação específica (um pedido de cura ou consagração de objetos, por exemplo) e a expressão da gratidão.


Teurgia & Religiões

Sob um ponto de vista mais amplo, pode-se compreender a Teurgia como uma referência básica de ritualização e cerimoniais que se encontra presente em inúmeras doutrinas e religiões. Sua estrutura ritualística, com uma ambientação específica, instrumentos, meditações e verbalização de determinadas orações são encontradas inclusive na liturgia cristã; bem como nas doutrinas neopagãs e religiões orientais.
Portanto, mais que uma prática mágica cerimonial, a Teurgia oferece uma estrutura ritualística simples que se pode aplicar à doutrinas mais distantes entre si e ao mesmo tempo profunda, pois se sustenta na espiritualidade humana e no desejo constante de interagir com a divindade e, de certa forma, divinizar-se também.

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