19 de março de 2012

Espelhos Mágicos

Os espelhos são, em si mesmos, objetos mágicos por uma vocação que emerge de sua própria natureza física. Espelhos refletem luz! E a luz tem muitas dimensões e significados. O espelho que fala desperta na rainha de vaidade maldosa, primeiro a inveja, depois o desejo de vingança contra a bela Branca.

É transpondo o espelho, portal entre dois mundos, que Alice vai conhecer outro estranho país de maravilhas [1]. A perdição de Narciso foi um espelho d'água. A curiosa fascinação causada pela reflexão da imagem no espelho seduziu os povos desde a mais remota antigüidade.



Egípcios, gregos e romanos confeccionaram espelhos de latão, prata e zinco. Na Itália medieval, as damas, já usavam, presos aos cintos, espelhos práticos, pequenos e redondos, em geral, também feitos de ouro ou prata. Foi no século XIV, nos anos 1300, que artífices venezianos começaram a produzir espelhos de vidro revestido com fina camada de uma liga de mercúrio e estanho. Em 1833 o revestimento passou a ser feito em prata, tal como conhecemos hoje.


ESPELHO DE MAGO

Para magos e feiticeiras, o reconhecimento de um objeto como espelho depende apenas do poder de reflexão da luz que esse objeto possui. Mais de acordo com o entendimento dos antigos, para os ocultistas, espelho é qualquer superfície polida capaz de refletir luminosidade com maior ou menor intensidade.

O Iniciado utiliza o espelho mágico para fins diversos. O primeiro deles é o desenvolvimento da vontade por meio do adestramento do olhar como recurso de expressão. Isso porque o controle da vontade se alcança justamente por meio do adestramento dos recursos de expressão do homem, a saber:


* OLHAR

* PALAVRA

* GESTOS (movimento de braços e mãos)

* AÇÃO (postura, todo movimento, todos os fazeres que implicam em trabalho físico e que dependem de uma disposição firme da vontade).


Os espelhos mágicos servem, então, a dois propósitos: 1. A educação do olhar; 2. com o olhar educado, o olhar orientado produz o fenômeno chamado FASCINAÇÃO, ou seja, submissão de alguém decorrente de impressão causada pela luz concentrada emitida pelo espelho ou ainda, emitida pelo olhar do próprio mago, pois que a iris do mago, a superfície do olho, tal como um espelho, também é refletor de luz. A diferença, no caso da fascinação pelo olhar é que o olho, não somente reflete a luz condensada como também, pode o mago, emitir sua própria luz (energia) através do olhar.


O ocultista Papus [2] esclarece:

"Os espelhos mágicos são essencialmente órgãos [instrumentos, veículos] de condensação da luz astral; por isso, o carvão, o cristal, o vidro e os metais poderão ser empregados em sua construção (...) ... o mais simples dos espelhos mágicos é um copo de cristal cheio de água pura. Ele deve ser colocado sobre um guardanapo branco com uma luz colocada por detrás."


TECNOLOGIA DO ESPELHO

Torna-se evidente que o princípio de funcionamento do espelho mágico é a sua propriedade de refletir a luz. O segredo do espelho é produzir uma luminosidade atrativa para o olhar e que favorece à concentração do observador num processo que almeja uma transição de estado de consciência – que alguns descreveram como entrar em alfa.

Papus conclui que "...todos estes espelhos tem por único efeito concentrar em um ponto uma parcela da luz astral e de por a vida individualizada de cada um de nós em relação direta com a vida universal conservadora das formas."

Note-se que Papus refere-se sempre à luz astral. Infere-se daí, e não há motivo para pensar o contrário, que os espelhos refletem todos os espectros de luz, os visíveis e os invisíveis ao olho físico do humano em estado de consciência normal, ou seja, a vigília.

Em ocultismo, recorre-se às virtudes do espelho para o desenvolvimento e exercício de uma faculdade chamada vidência, para ver o que está distante, seja no espaço, seja no tempo. Compreendemos então o sentido do uso da famosa bola de cristal: a bola que reflete a luz é um espelho mágico.

O espelho reflete luz astral assim como reflete a luz solar. Se considerarmos os ensinamentos da tradição esotérica, admitindo que a luz astral possui uma espécie de memória universal, registro de todas as coisas presentes, passadas e futuras, resulta que o mago, fixando o olhar no reflexo do espelho ou partindo de concentração num ponto de luz comum, torna-se capaz de perceber a luz astral e nela distinguir ou acessar as informações que deseja obter. Os budhistas e teósofos denominam esse fluido cósmico e onipresente de Akasha.


Papus descreve o exercício do Iniciado com o espelho mágico:

"Quando se olha fixamente, durante alguns instantes, o centro do espelho, sente-se umas picadas características nos olhos, obrigando, muitas vezes, a fechar momentaneamente as pálpebras e, por conseguinte, a anular todos os esforços feitos até então. O pestanejamento é devido ao ser impulsivo [o animal, no homem] e é puramente reflexo; é preciso por isso combatê-lo pela vontade, o que é questão de pouco tempo, fazendo diariamente um exercício de vinte minutos no máximo. No momento em que se sentem as picadas características dos olhos, é preciso desenvolver uma tensão de vontade para impedir que as pálpebras se fechem, o que se conseguirá sem muito esforço. Obtido este primeiro resultado, ver-se-á logo o espelho tomar uma coloração diferente da que ele apresenta habitualmente: eflúvios vermelhos, depois azulados e semelhantes aos eflúvios elétricos; e só então é que as formas aparecerão."



Este exercício, que deve produzir uma experiência de vidência, contém em seus procedimentos os requisitos necessários para o treinamento do controle e da projeção da vontade – como poder - através do olhar.

Em seus laboratórios, os magistas utilizam como espelho uma placa de aço brilhante, polida, ligeiramente côncava. Em quatro pontos opostos entre si, no espelho, são gravados quatro nomes sagrados: Jehovah, Metatron, Elohim, Adonai. Em ritual, o espelho é consagrado ao anjo Anael.


NOTAS

1. Referimo-nos a Alice no país dos espelhos, do mesmo autor de Alice no país das maravilhas, Lewis Carrol.

2. Papus. Gerard Anaclet Vincent Encausse, médico, ocultista, nascido em 1865, em Coruña, Espanha, filho de um químico francês. Morreu em 1916. Neste ensaio, as citações foram retiradas do Tratado Elementar de Magia

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