Oscar Fingall O'Flahertie Wills Wilde nasceu em 16 de outubro de 1854, na cidade de Dublin, capital da Irlanda. Filho de Sir William Wilde, médico dado a aventuras amorosas que teve a carreira prejudicada por escândalos, falecido em 1876, e de Jane Francesca Elgee, escritora de versos patrióticos com o pseudônimo de Speranza e ativista do movimento da Independência Irlandesa, Oscar Wilde, desde sua infância, via-se cercado por grandes ícones, intelectuais da política e pensadores da arte. Fato que com certeza contribuiu muito para seu desenvolvimento pessoal.
Criado sobre os alicerces do Protestantismo, em 1865, ingressou na "Royal School de Enniskillem", onde era um aluno excepcional, principalmente em relação aos estudos das grandes obras clássicas gregas e seu alto nível de conhecimento em idiomas. Nesta época, o infante Oscar sofre com a morte da irmã mais velha Emily, vítima de uma febre súbita. Em 1874, no "Trinity College", ganhou a medalha de ouro de Berkeley por seu trabalho sobre os poetas helenos e em seguida uma bolsa de estudos para o "Magdalene College de Oxford".
Em 1876, em seu novo colégio, recebe prêmio em literatura grega e latina. No mesmo ano, publica sua primeira poesia, O coro das virgens nuvens, uma versão de uma passagem de As nuvens de Aristófanes. Antes de deixar a instituição de Oxford em 1878, ganhou o prêmio "Newdigate" com o poema intitulado Ravena. Em 1880, publica Vera, um texto teatral em cinco atos que foi bem aceito pela crítica, e Os Niilistas, sobre o niilismo na Rússia.
No ano de 1882, Oscar Wilde foi convidado a visitar os Estados Unidos e palestrar sobre seu recém criado Movimento Estético, baseado na defesa do "Belo" como solução única de todos os fatores que denegriram a sociedade industrial. Este movimento artístico, que contou com a adesão dos novos intelectuais e pensadores britânicos, tinha por objetivo transformar os conceitos do tradicionalismo vitoriano, atribuindo um caráter vanguardista às artes. Oscar descreveu-o procurando atribuir-lhe um fundamento histórico.
No ano seguinte, vai à Paris e conhece o mundo literário francês. Se por um lado esta viagem enfraqueceu o desenvolvimento de seu movimento artístico a ponto de abandoná-lo; por outro lado, teve a oportunidade de aprofundar seu convívio social e artístico entre os franceses. Neste mesmo ano conclui A duquesa de Pádua, além de Salomé, que chegou a ter a interpretação de Sarah Bernhardt.
Em seguida, retorna para a Inglaterra e casa-se com Constance Lloyd, filha de um advogado renomado de Dublin. O casal muda-se para a Chelsea, local conhecido por abrigar artistas e intelectuais, e em 1885, nasce o primeiro filho, chamado Cyril. No ano seguinte nasce Vyvyan.
Mesmo após o matrimônio, Oscar não abandona as rodas literárias e sua presença continua sendo muito solicitada, mesmo em eventos sociais. A imagem do homem elegante, esguio e glamouroso, era uma referência por onde transitava e atraia muitos olhares. Vestia-se de forma sofisticada e ao mesmo tempo extravagante, usando acessórios que, segundo ele, refletiam o que de mais intimo existia em sua alma.
Entre os anos de 1887 e 1888, várias obras foram publicadas. Entre elas, O príncipe feliz e O Fantasma de Canterville, que se tornariam referências de sua carreira literária. Entretanto, neste momento, apesar de trazem uma certa carga de amargura pessoal, estas obras foram consideradas excessivamente fantasiosas, sendo até mesmo comparadas com "contos de fadas". Até 1889, atua como editor no "The woman's world".
Mas em 1891, Oscar lançou sua obra maior: O Retrato de Doryan Gray. Esta obra, que aborda a decadência moral humana, colocaria o escritor no patamar dos maiores autores da literatura inglesa. Também publica A alma do homem (sobre o socialismo) Intentions, Lord Arthu Savile's Crime and Other Stories e A house of Pomegranates. Até meados da década de 1890, sua produção literária e teatral lhe renderam fama e bons lucros. O Leque de Lady Windermere, Um Marido Ideal e A importância de ser prudente são referências deste período.
No entanto, ao mesmo tempo em que conquistou respeito e notoriedade literária, além de uma situação financeira confortável, também surgiram sérios problemas pessoais. Até aquele momento, Oscar era apenas uma personalidade audaciosa da sociedade aristocrática britânica. Havia diversos rumores sobre sua conduta pessoal, inclusive sobre uma suposta homossexualidade, envolvendo-se com garotos de programa, que era considerada crime e severamente punida pelos tribunais.
Em 1891, conhece Lord Alfred Douglas (16 anos mais novo e conhecido como Bosie) e ambos envolvem-se afetivamente. O pai de Lord Alfred, Marquês de Queensberry, ciente do envolvimento do filho com o escritor, envia uma carta a Oscar, ofendendo-o e recriminando a relação entre eles. Na carta, o Marquês cita ironicamente: "A Oscar Wilde, conhecido sodomita". Oscar, por sua vez, incentivado por Lord Alfred, decide processar judicialmente, por difamação, o Marquês.
Após o processo iniciado, o escritor percebe o poder econômico e influência política do Marquês. Por isso, tenta retroceder e retirar o processo. Mas, devido ao número e consistência das provas apresentadas, um novo processo é iniciado; desta vez contra o próprio autor. Uma carta de Oscar para o Lord Alfred, de janeiro de 1893, vem à tona e é utilizada no processo que se desenrolava.
Iniciam-se os processos no tribunal de Old Bailey. Em 11 de abril de 1895, Oscar é preso provisoriamente, por crime inafiançável. Em 3 de maio, na ausência de uma decisão do Júri, é concedida a liberdade sob fiança. Seus amigos preparam-lhe uma fuga para a França. Ele, porém, prefere entregar-se à fatalidade. Wilde volta a comparecer ao tribunal em 7 de maio. Posto novamente em liberdade, refugia-se na casa do irmão William. Em 20 de maio inicia-se a fase de revisão do processo. Cinco dias depois, Wilde é condenado à pena máxima: dois anos de prisão com trabalhos forçados. Em 27 de maio, Wilde é conduzido à Prisão de Pentoville, de onde passa, dias depois, à de Wandsworth. Em 13 de novembro é transferido para a prisão de Reading, onde ficaria até o fim da sentença.
Após este fato suas obras são recolhidas das livrarias e suas peças retiradas de cartaz. Os bens que lhe restam são leiloados para cobrir despesas do processo judicial. Neste momento, finda seu período literário mais produtivo, que ocorreu entre 1887 e 1895.
Mesmo atravessando tal turbulência, escreve A Balada do Cárcere de Reading, baseado na execução do ex-sargento Charles T. Woolridge, dentro da Prisão de Reading, e De Profundis, uma longa carta destinada à Lord Douglas.
Oscar era o preso C-33 no presídio de Reading. Na madrugada de 3 de fevereiro de 1896, no período que estava cumprindo a sentença, alegou ter tido uma visão de sua mãe. "Eu a convidei para sentar, mas ela só balançou a cabeça", disse o escritor. Na manhã seguinte, recebe a notícia do falecimento de sua mãe.
Após ser libertado em 19 de maio de 1897, vai para a França e adota o pseudônimo Sebastian Melmouth. Este nome foi utilizado para abrir o registro no Hotel d’Alsace, local onde passou a maior parte de seus últimos dias. Ainda, mantém um contato distante com Lord Alfred Douglas. Porém, a mãe do Lord ameaça interromper sua mesada caso não afastasse-se do autor. Lord Alfred aceita sob a condição de que sua mãe continue enviando dinheiro a Oscar.
Após esse período conturbando, envolvendo as acusações, processos jurídicos, condenação e declínio moral e financeiro, Oscar conhece a face mais rude da pobreza. Passa a maior parte do tempo em quartos de hotéis baratos destruindo-se através do absinto. Envergonhados pelo destino do pai, os filhos de Oscar, os quais nunca mais os veria, chegam a trocar de nome. Sua esposa morre em 1899.
Na manhã do dia 30 de novembro de 1900, às 9h50, em um quarto chulo de um hotel parisiense, falece vítima de um ataque de meningite (agravado pelo álcool e pela sífilis) e de uma infecção no ouvido conhecida por cholesteotoma. Inicialmente, seu corpo foi sepultado num pequeno cemitério de Bagneux. Em seu enterro, compareceram apenas o amigo pessoal Robert Boss, que chegou a fazer divulgação dos manuscritos do autor, e Lord Alfred Douglas, que arcou com as despesas do funeral. Posteriormente, o corpo de Oscar Wilde foi transferido para o cemitério Père Lachaise, onde repousa até hoje.
Após a morte de Oscar, Lord Alfred Douglas aparentou muito sofrimento, mas converteu-se ao catolicismo e casou-se. Este matrimônio, apesar de render um filho, não durou muito tempo e, devido à vida pregressa com Oscar, Alfred não pôde manter a guarda dos filhos. Em seu livro de memórias, Without Apology (Sem desculpas), escrito em 1938, fica evidente que Lord não esqueceu do escritor. Em 1945, falece Lord Alfred Douglas. Neste mesmo ano, O Retrato de Doryan Gray, ganha uma versão cinematográfica nos Estados Unidos, sob a direção de Albert Lewin.
Amado por uns e repudiado por outros, a figura e a obra de Oscar Wilde são realmente dignas de admiração. Durante sua vida, rumores criados em torno da suposta vida irregular, atribuiu à sua imagem um encantamento e atração ainda maiores. Até mesmo a data de seu nascimento é alvo de controvérsia. Há historiadores que afirmam que o dia do nascimento seria realmente em 15 de outubro de 1855 ou 1856. De qualquer forma, a data do nascimento de Oscar Wilde é irrelevante perante sua obra.
Pode-se supor que a má fama prejudicou sua carreira literária. Mas seus admiradores afirmam o contrário: Oscar Wilde trazia a perfeita combinação de petulância e doçura. Em seus 46 anos de vida, o escritor rompeu as fronteiras do óbvio e tornou-se uma das maiores referências da literatura e do intelectualismo do século XIX. Autor de célebres aforismos e dono de pensamentos além de seu tempo, Oscar chegou a ter três peças em cartaz simultaneamente nos teatros ingleses; fato raro até os dias de hoje.
Além da inteligência, seu destaque também era obtido devido à personalidade forte, altiva, por vezes arrogante e anticonvencional; considerando-se, principalmente, o rigor da conduta moral da sociedade do século XIX.
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